Como o racismo se consolidou historicamente no Brasil e molda a sociedade até hoje
Julho das Pretas | Série Especial
Julho é o mês da visibilidade da luta das mulheres negras na América Latina e no Caribe. No Brasil, esse debate nos convida a revisitar a história com um olhar crítico, entendendo como o racismo foi sendo construído ao longo dos séculos e continua influenciando diretamente as estruturas sociais.
O racismo no Brasil não é algo natural, mas sim uma construção histórica e política. A colonização portuguesa, a partir do século XVI, estabeleceu uma lógica de exploração baseada na escravização de africanos e na desumanização de seus descendentes. Por mais de 300 anos, o país se sustentou sobre o trabalho forçado de pessoas negras, e mesmo após a abolição formal da escravidão, em 1888, não houve qualquer política de reparação ou inclusão social.
A filósofa Djamila Ribeiro, referência no pensamento feminista negro contemporâneo, aponta:
“O racismo estrutura a sociedade brasileira. Ele não é um problema individual, mas sim um sistema de poder que organiza todas as relações sociais.”
Essa estrutura se manifesta em desigualdades profundas no acesso à educação, saúde, moradia, oportunidades econômicas e representação política.
Após a abolição, o Estado brasileiro optou por políticas de branqueamento populacional e incentivo à imigração europeia, mantendo a população negra à margem. Nas palavras de Djamila:
“A ausência do Estado na vida da população negra pós-abolição não foi omissão, foi um projeto.”
Esse projeto excluiu milhões de pessoas do direito à cidadania plena e construiu um imaginário social que ainda hoje alimenta o racismo institucional.
A falsa ideia de “democracia racial”, consolidada ao longo do século XX, silenciou o debate sobre as desigualdades raciais e escondeu o racismo sob o mito da convivência pacífica. Mas as estatísticas mostram outra realidade: a população negra é maioria entre os mais pobres, os que mais morrem por violência policial, os mais afetados pela fome e pelo desemprego.
E quando se trata de mulheres negras, a opressão se torna ainda mais cruel. Elas estão na base da pirâmide social, enfrentando o racismo, o machismo e a invisibilidade. Mesmo assim, são protagonistas de processos de resistência e transformação. Como reforça Djamila Ribeiro:
“O feminismo negro é um projeto político para transformar a sociedade como um todo, porque propõe uma mudança radical das estruturas que nos oprimem.”
O Julho das Pretas é um chamado à ação. É hora de escutar essas vozes, valorizar saberes ancestrais e construir políticas públicas que enfrentem o racismo de forma estrutural. Porque não basta não ser racista — é preciso ser ativamente antirracista.