SÉRIE Eu e meus amigos 1
Pois é, Seu Agenor!
Entre meus amigos de infância, Joaquim Prata, o brilhante Defensor Público, talvez seja o primeiro deles a ter contato comigo já que éramos vizinhos. Tenho dúvida quem chegou primeiro, se ele ou Leléu – Wellington Menezes, filho da dona Dalva, dono de voz magnífica, o nosso primeiro e único tenor.
Joaquim, inteligente e espirituoso, bom de conversa, sempre foi rápido no gatilho, principalmente quando alguém testava sua capacidade de reação diante de uma pergunta maliciosa, aquelas típicas que endereçam a pessoa a ficar com cara de bobo e sem ter resposta pronta ou na ponta da língua.
No transcorrer da adolescência todas as noites, após o jantar, nossa turma se encontrava na Praça da Matriz, reduto onde rapazes e moças se exibiam para as tradicionais paqueras, bate-papos corriqueiros, o footing ao redor da praça e toda aquela sequência de eventos que consolidavam o dia a dia de todos nós.
Certa noite, no chamado oitão da praça, quase em frente ao prédio onde funciona hoje a Câmara de Vereadores, um grupo de amigos estudantes do Laudelino Freire jogava conversa fora como sempre acontecia: eu, Eraldo, Emanuel, Vaubério e Toinho de Nozinho. Naquele momento o grupo tinha o reforço do senhor Agenor Viana, pessoa que tinha o afeto de todos nós.
Justo ele, o ‘seu’ Agenor, vinha, há algum tempo, tentando desarmar a capacidade de reação que o Joaquim tinha para o que hoje se denomina de pegadinha ou saia justa, caso alguém tentasse contra ele, enfim deixá-lo sem graça diante dos seus amigos. Cá entre nós, a gente sabia que aquela era uma tarefa difícil porque o Joaquim era arisco, não se intimidava ou deixava absolutamente nada sem resposta. Aqueles que tentaram, geralmente ficaram com cara de chaleira.
Pois bem. Quem de repente surge na calçada do posto de gasolina do Seu Zeca, esquina da Rua da Glória com Lupicínio Barros? Ele, o Joaquim, sempre elegante, com seus passos curtos e firmes em nossa direção
Era a oportunidade – mais uma – que ‘Seu Agenor’ esperava para provocar uma pane na esperteza e raciocínio rápido do amigo.
Ficamos de prontidão, imaginando o que o ‘Seu Agenor’ estava aprontando para o Joaquim.
Ele chegou ao grupo, nos cumprimentou com um ‘oi’, e se voltando para ‘Seu Agenor’, disse com sinceridade:
– Que bom o senhor aqui com a turma! Tudo bem?
– Vai, vai tudo bem, Joaquim! – Respondeu com a cara fechada e jeitão emburrado de quem não estava nada satisfeito.
Notando aquele clima um tanto carregado, Joaquim perguntou apreensivo:
– Está com algum problema, ‘Seu Agenor’?
-Não, o problema está com você. Como é que pode um rapaz educado, filho de dona Pratinha, usar uma calça apertada como essa?
Após respirar fundo e balançar a cabeça em gesto de desaprovação, Seu Agenor deu o tiro de misericórdia:
– Isso é coisa de veado!
Joaquim, primeiro se olhou ‘dos pés à cabeça’, depois virou o rosto para a esquerda tentando um ângulo que lhe permitisse visualizar o seu traseiro… repetiu a operação, agora com o rosto para a direita, inspecionou seus glúteos, e depois de concluída a operação, fixou os olhos em Seu Agenor, a quem respondeu com a maior naturalidade possível:
– Pois é, Seu Agenor, para o senhor ver como são as coisas. Não é que hoje eu saí de casa doido para dar!
Nunca rimos tanto. O velho e bom Joaquim recebeu o abraço do Seu Agenor, que foi embora sorrindo como uma criança.
Tinha desistido de fazer prosa com o filho de dona Pratinha.
Ele era demais.
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P.S.: Esta crônica, eu dedico a duas pessoas magníficas: Dr. Joaquim Prata Souza e ao Sr. Agenor Viana (de saudosa memória).
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