Repensar Lagarto
Há, em Lagarto, uma centelha de atraso que se acentua a cada ano sob os olhares complacentes do cidadão comum e daqueles que, na prática, poderiam reverter uma situação nada fiel ao perfil do progresso que merecemos. O povo, apesar de matar um leão por dia, não consegue ver transformada em realidade as promessas repetidas em série durante campanhas eleitorais, como ocorre neste momento.
Infeliz a sina de nossa sorte. As instituições que, constitucionalmente, devem satisfações ao povo, insistem ao longo dos anos, em não oferecer resposta positiva, desinteressadas em reverter o mal pela raiz, pela cepa administrativa.
Refiro-me à Câmara e à Prefeitura, esperançoso que o futuro prefeito seja fiel – 30% que seja – ao conteúdo dos improvisados discursos feitos durante a campanha eleitoral, diante de multidões, onde o dito pelo não dito quase sempre tem o mesmo valor que o ouro vendido a quilo na joalheria da esquina.
A Câmara, com suas limitações representativas, não apresenta perfil histórico que mereça qualquer credibilidade, apesar do esforço de um par de vereadores. E não me peçam melhor consideração, pois o resumo dos anais lá registrados me oferece motivos de sobra para continuar achando que a dita Casa do Povo tem atuação sofrível. O que dizer de um parlamento cujo presidente é considerado analfabeto pelo TRE? Tive desânimo incomum quando soube da notícia. O cruz credo de toda essa romaria histórica deságua na consciência do eleitor, ele sim, responsável pelas anomalias políticas que entraram de cabeça no anedotário popular. Não é à toa que ficamos a assistir a cada eleição o ridículo compondo importantes espaços do Legislativo, empanturrando nossa história de vazios irrecuperáveis. Infelizmente, o tempo é implacável. Ou Lagarto faz uma higiene social ou fica nesse empurra-empurra político entre Saramandaia e Bole Bole.
Em algum lugar do passado essa prosa tirada da novela de Dias Gomes, a partir de 1976, chegou a ser interessante. Só que, ao longo do tempo, mudancistas e tradicionalistas insistem em pregações tribais que, fora dos limites de Lagarto, entraram para o subterrâneo do folclore político, com direito a efeitos especiais pelos péssimos momentos que protagonizam.
É verdade sim que a cidade cresce por conta do esforço da iniciativa privada, do cidadão que ocupa espaço com sua casa própria ou empreendimentos comerciais que visam atender a demanda da população. O lagartense é vaidoso, tem sonho comum desde que se entende por gente: o básico é uma boa casa e um carro. É assim, mesmo entre aqueles que estão alinhados na faixa econômica que os classificam como de baixa renda. Do mais modesto ao mais rico, o objetivo é sempre crescente. Tem seu lado positivo quando os pés são mantidos no chão.
Por outro lado, sobram aspectos negativos que reclamam uma mudança de comportamento inadiável porque é algo que incomoda e não é de agora. Exemplo: toda a região do mercado municipal – envolvendo o antigo e duplo Tanque Grande, com sua ladeira e outras áreas interligadas – concentra o que há de mais decadente em seu aspecto físico. Ninguém faz nada, sequer um projeto que possa oferecer mais dignidade ao feirante que ali trabalha. O atual mercado já cumpriu sua sina e objetivo. No dia que a Prefeitura anunciar a construção de um novo mercado, a região se organiza de vez. O povo ganha, a cidade respira, o prefeito de plantão cresce.
Lagarto precisa de um bom hotel. Também de um bom restaurante, ou de vários bons restaurantes. Faltam áreas de lazer. O Balneário Bica, fechado após tsunami político de tão desastrosa memória, é o retrato da infelicidade administrativa que resiste há décadas. A cidade tem o melhor ginásio de esportes coberto do interior do Estado, mas ocioso porque o esporte amador sequer tem força para dar vida ao próprio ginásio. Um bom time de futebol dá prestígio ao município, motiva a população, ganha adeptos entre os jovens, inclusive essa gurizada apaixonada pelos Aviões e Chicletes. Mas, o quê! Lagarto tem estádio, mas não tem time. Aliás, existe um no papel, o Atlético Clube Lagartense. Rebaixado da primeira para a segunda divisão, recentemente brindou a todos nós com a vergonha de não ter sequer onze jogadores para estrear no campeonato.
A primeira e única vez que o representante do próspero e rico município de Lagarto foi campeão estadual, o dinheiro que movimentou o time vencedor veio do bolso de um banqueiro do jogo do bicho, oriundo do Espírito Santo.
Será que a saída para o futebol lagartense está na contravenção?
O município não está preparado para atender as demandas de seu crescimento. Importantes setores da sociedade demonstram pouco interesse em compreender que Lagarto, apesar de seu enorme potencial, está meio travado. Os políticos e a sociedade de forma organizada precisam repensar o Lagarto que temos e o Lagarto que queremos.
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