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100 ANOS DE JOSÉ VICENTE DE CARVALHO: Sua biografia e o reconhecimento dos seus munícipes

O jornalista JOSÉ VICENTE DE CARVALHO nasceu em 5 de abril de 1909, em Lagarto, estado de Sergipe, filho de Anastácio Carvalho e D. Julia das Virgens. Casou-se com Julieta da Silva Carvalho em 19 de janeiro de 1938, com quem teve sete filhos: Emerson, Stella, Everaldo, Eralda, Eloísa, Elisabeth e Maria José. Foi aluno do Grupo Escolar Silvio Romero, quando fez o primário em 1925 e depois se dedicou à agricultura. Nas décadas de 1930 e 1940 foi um dos mais conceituados professores do primário de nossa cidade e em seguida redator e jornalista de dois jornais, Alvorada (1930) e O Mensageiro (1940), bem como, sócio da Associação Sergipana de Imprensa (ASI) de 1970 a 1990 e orador oficial da cidade em épocas passadas. Do ano de 1950 até 1982, dedicou-se ao comércio, trabalhando ativamente no ramo de exportação de fumo para as praças do Norte e Nordeste do país, até a chegada de sua aposentadoria. Foi associado do Asilo Santo Antônio; vice-presidente e secretário, por muitos anos, da Maternidade Mons. João Batista de Carvalho Daltro, além de presidente da Ação Social da Paróquia de Lagarto e 1° presidente da Congregação Mariana. Fez parte da fundação do Colégio Nossa Senhora da Piedade, e ainda, da instalação do Colégio Comercial Laudelino Freire, tendo também sido membro fundador do Rotary Club de Lagarto, em 1970. Por tudo isso, se pode aquilatar o alto espírito humanitário de que foi possuidor, o que bem atesta o enorme prestígio que gozava da população do município de Lagarto. Tratava-se de um homem simples, de larga vivência e conhecedor de grande parte de nosso imenso país, uma vez que as regiões Norte e Nordeste lhe eram bastante familiares. José Vicente demonstrava ser um indivíduo bastante sensível em relação ao próximo, requisito básico que certamente adquiriu em contato com os movimentos comunitários religiosos. Amante das leituras de bons livros que sempre mantivera na sua vasta e rica biblioteca. Escreveu e publicou panfletos em forma de poesia: Igreja Matriz de Lagarto (1977), Exaltação à Nossa Senhora da Piedade (1979), Lagarto Tricentenária (1979), Meus 70 anos (1979), 100 Anos da Emancipação Política de Lagarto (1980), Lagarto Terra Querida (1986), Homenagem Póstuma ao Mons. Juarez Santos Prata (1988). Do prestígio próprio de que desfrutava o nosso ilustre biográfico, foi um dos responsáveis pela vitória nas urnas, quando eleito vice-prefeito da chapa bem-sucedida ao lado de José Vieira Filho, nos anos de 1977 a 1982. Foi presidente do Diretório e secretário do Partido Social Democrático (PSB) e, posteriormente, do partido da Arena. Foi tesoureiro e secretário da Associação Musical Lira Popular de Lagarto por muitos anos. Depois que ficou enfermo (e ele pressentia que era irreversível), em nenhum momento veio a demonstrar perturbação ou tristeza aos seus familiares, ao contrário, irradiava tranquilidade e paz de espírito com tudo aquilo que se passava ao seu redor. José Vicente de Carvalho morreu no dia 10 de setembro de 1998 (Dia da Imprensa), aos 90 anos, deixando para todos: familiares, parentes e amigos, um exemplo de vida que conseguiu aglutinar em torno de sua imagem carismática, uma verdadeira e importante herança que o tempo jamais apagará.

Vale ressaltar, que graças ao Projeto de Indicação nº 05/87, de autoria do saudoso vereador, Prof. Cláudio Monteiro, a Biblioteca Municipal de Lagarto foi reaberta com o nome de José Vicente de Carvalho, a partir de 15 de setembro de 1987, antes esquecida e sem endereço fixo. Sancionado o projeto, passou a funcionar no Edifício Dr. Laudelino Freire (atual Câmara de Vereadores). Com a morte de José Vicente de Carvalho, em 1988, a Câmara de Vereadores de Lagarto aprova, por unanimidade, o projeto lei de autoria do então prefeito Jerônimo Reis, em que a Biblioteca Pública Municipal passa, oficialmente, a receber o nome do jornalista José Vicente de Carvalho, em 17 de maio de 2000, mais tarde transferida para o monumental prédio do antigo Grupo Escolar Dr. Sílvio Romero, onde permanece até a presente data.

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Dados recolhidos pelo Prof. Rusel Barroso, a partir das informações cedidas
pelo jornalista e professor Emerson da Silva Carvalho, filho do homenageado.

Poesias de José Vicente de Carvalho

MONSENHOR JUAREZ SANTOS PRATA

Dois anos hoje decorridos,
Por entre prantos doridos,
Que Monsenhor Juarez,
Nosso conterrâneo querido,
Alçou vôo ao desconhecido
Onde a morte não tem vez.
Lá ele recebeu os méritos,
Por seus atos beneméritos
Que praticara no mundo,
E um coro angelical,
Da mansão celestial
Cantou seu viver fecundo

Monsenhor Juarez Prata,
De atitude democrata
Desde sua adolescência
Demonstrou ter vocação
Para a sublime missão
De exercer com vivência
A vida sacerdotal,
E este sacrossanto ideal
Com esforço alcançado
Realçou esta virtude
Que ornou, em plenitude,
Seu espírito moderado.

Na cidade de Salvador
Nosso saudoso Monsenhor
Recebeu com dignidade
As ordens sacerdotais,
Missão dos seus ideais.
Naquela vetusta cidade
Ministrou por trinta anos
Aos seus paroquianos
As virtudes do seu coração,
Entre elas amor e concórdia
Implorando misericórdia
Aos que buscam salvação

Lagarto, sua terra berço,
Onde aprendeu rezar o terço,
Na festa maior da Piedade
Recebia com muito afeto
O seu filho predileto,
Que, com sua boa vontade
Vinha abraçar os conterrâneos
Trazendo os afagos espontâneos
Do seu grande coração,
E dos seus queridos pais
Obter as benções paternais
De amor e dedicação.

Neste adeus tarde embora
Apresentamos nesta hora,
De pungente recordação
Nosso sentido tributo,
E com o coração em luto
Uma prece de emoção
Pela perda nunca esquecida
De uma vida calma e querida
Com espírito juvenil,
Assim foi Monsenhor Juarez
Um clérigo de honradez
No clero do nosso Brasil.

Lagarto, 8 de fevereiro de 1988.

LAGARTO TRICENTENÁRIA

Lagarto hoje festeja
Na sua esbelta igreja
Um grande acontecimento,
Três séculos são decorridos
Por entre flores vividos
De um memorável evento,
Lagarto ser elevado
Por todos aprovado,
À categoria de Freguesia.
Naquela oportunidade
A imagem da Piedade
Chagava entre alegria.

Importada de Portugal,
Heráldica terra de Cabral,
Recebemos a bela imagem
Da Virgem da Piedade
Para que seja na cidade
Detentora da Mensagem
De esperança e de amor
Que Cristo, nosso Redentor,
Manda a todo momento
À nossa terra querida,
Nesta hora convertida
No altar do Sacramento

Muitas festas se organizam
Entre aplausos se realizam
Para grandeza da cidade
Que recebe com o coração,
Todo cheio de efusão,
Altos vultos da cristandade
Entre outros o Núncio
Que traz o fiel anúncio
Das benções do Vaticano
Ao Congresso Eucarístico
Que Lagarto em ato místico
Realiza neste fim de ano.

Lagarto tricentenária
Já se tornou legendária
Pela devoção decidida
Que sua gente ordeira
Tributa à sua padroeira,
Em todas as horas de vida.
Ao término do Congresso
A que Lagarto está imerso,
Será feita a coroação
Da Virgem nossa Patrona
E também Soberana
Dos lares do nosso torrão.

No correr dos trezentos anos
Que somos paroquianos
Sempre vivemos ligados
À paróquia que moramos
E à igreja em que rezamos,
Agora todos irmanados
Nos mesmos laços cristãos,
Unidos ao afeto de irmãos e com um abraço gentil,
Para o Congresso encerrar,
Iremos receber Dom Avelar,
Cardeal Primaz do Brasil.

Lagarto, 11 de dezembro de 1979.

100 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE LAGARTO

Festejamos neste dia
Com carinho e alegria
O primeiro centenário
Da elevação à cidade,
Galgando sua maioridade
Nosso torrão legendário.
De vila que era então,
Depois de sofrer divisão
No seu fértil território,
A cidade foi crescendo,
Muitos prédios se erguendo,
Hoje é nome meritório.

Nossa terra estremecida,
Lagarto sempre querida
Cheia de luz e de glória.
No seu solo abençoado
Será sempre entoado
O hino de sua vitória.
Estamos nesta data
Que nos é muito grata,
Comemorando 100 anos
Da sua emancipação,
Vindo após ser campeão
Dos municípios sergipanos.

No povoado Santo Antonio,
Onde há um patrimônio
De real valor histórico,
Uma igreja pequenina
Em que marca e predomina
A fé dum povo católico.
Ela foi edificada
Por algum tempo cuidada
Pelos colonizadores
Que chegaram à região
Fundando a povoação
Segundo os historiadores.

Perpetuando o evento
Que falamos no momento,
O Poder Municipal,
Num exemplo de civismo,
Com rasgo de patriotismo
E exaltação paternal,
Ergueu um Marco seguro
Que levará ao futuro
As proezas do presente
E o labor de um povo
Que se veste de renovo
Neste dia de luz fulgente.

Lagarto querida terra
Tudo que em ti encerra
É grandeza para os filhos
Que em teu solo nasceram
E que também morreram
Em lutas e empecilhos.
Lagarto nos teus 100 anos
Implantarás novos planos
Para enriquecer teu perfil.
Lagarto, o meu abraço,
Trago-te no meu regaço,
Cidade orgulho do Brasil.

Lagarto, 20 de abril de 1980.

MEUS 70 ANOS

A vida é sempre assim
Cheia de aresta e jasmim,
Pontilhada de sorriso
Que aflora entre espinho
E assim, neste cantinho
Que é meu modesto paraíso
Vou atravessando a vida,
Com minha esposa querida
E filhos do coração.
Nesta idade avançada
Por DEUS abençoada
Vou cumprindo a missão.

Lagarto onde nasci,
Terra que sempre vivi
Nunca tive um desafeto
Bondade dos conterrâneos
De corações espontâneos,
Me suportam com afeto.
Nos arroubos da mocidade
Quando tudo é novidade
Sempre gozei bom conceito,
Mesmo simples e modesto
Nunca fiquei como resto
Nesta terra de respeito.

Quando jovem não fiz curso
Pela escassez de recurso
Pouca escola frequentei.
Fiz-me lente sem diploma
Igual a flor sem aroma.
Nos cargos que ocupei
Fui lendo bons escritores,
Como mandam os professores,
Assim fui acumulando
Conhecimentos gerais
Para os embates legais
Do viver que vou levando.

Provim de família católica
De vida calma e metódica
Sempre fiel a fé cristã
A todos estende a mão
Por tê-los como irmão
E assim, neste afã
Estou cumprindo o encargo
Com altivez e sem embargo
Que DEUS me confiou
De viver o Evangelho
Não só o novo e o velho,
Cuja lei seguindo vou.

Já é longa a caminhada
Que faço sem parada
Neste mundo de treva e luz.
Setenta anos de existência,
E através desta vivência,
Alguma coisa me seduz
Ajudar na fraternidade.
Neste estado de senil
Mesmo com falha e atrito
Tenho o coração contrito
Que dei algo ao meu Brasil.

Lagarto, 1979.

EXALTAÇÃO À NOSSA SENHORA DA PIEDADE

Santíssima Virgem da Piedade,
Terna Mãe de bondade
Soberana desta terra,
Onde tudo vibra e canta
As virtudes desta Santa,
Luz da planície e da serra.
Lagarto, rincão de glória,
Exulta cheio de vitória,
Cantando o tricentenário
Da chegada de sua patrona
Para ser a divina dona
Deste torrão legendário.

Lagarto unidade permanece,
De joelho em constante prece,
Implorando ao Redentor
Que a paróquia de Lagarto,
De povo atento e farto,
Celebre com esplendor
A festa dos trezentos anos
Da entrega aos paroquianos
Da imagem bela e querida
Da MATER DOLOROSA
Para a benção fervorosa
Desta cidade florida.

Lagarto, cidade ternura,
Ninho de amor e candura
Daquela que é Mãe terna,
Que traz sob seu manto
Os filhos deste recanto
Para a glória sempiterna.
Oh! Virgem da Piedade,
Coração de lealdade,
Co-redentora castíssima
Aqui vai a homenagem
Através desta mensagem
À Maria puríssima.

Nessa terra se engalana
Cheia de vida se ufana,
Pelo grandioso evento
Que a história nos relata,
Indicando a bela data
Daquele acontecimento
Que iremos comemorar
Trezentos anos festejar
Da criação da freguesia,
Por Cristo glorificada
E também abençoada
Pela grandeza de Maria.

Lagarto, berço fecundo
De vultos que ante o mundo
Se tornaram imortais,
Irá apresentar este ano
Com espírito mariano
De fé e amor totais,
Uma festa que exprime
A religião que sublime
Em um povo varonil,
Três séculos de doutrina
Da Santa que patrocina
Esta parte do Brasil.

Lagarto, janeiro de 1979.

Homenagem do autor à Paróquia de Lagarto no alvorecer do Ano Tricentenário de sua criação e da chegada da imagem de Nossa Senhora da Piedade, sua padroeira.

IGREJA MATRIZ DE LAGARTO

Lagarto toda sorridente
Tem hoje aqui presente
O povo ordeiro e Cristão
Do seu vasto município
Que vem logo de princípio
Assistir a inauguração
Das reformas do seu templo,
Nas quais sinto e contemplo
A pujança e a grandeza
No espírito empreendedor
Do vigário Monsenhor
Que as dirigiu com firmeza.

A história bem nos diz
Que a nossa Igreja Matriz
Foi por etapa edificada,
Estando pronto o ideal
Que é o altar principal,
Foi logo entronizada
A Excelsa Padroeira,
Nossa Mãe Medianeira,
A Virgem da Piedade
Que faz hoje, sem enganos,
Trezentos e oito anos
Que aportou nesta cidade.

Nossa igreja da Piedade
Como é, na realidade,
Por todos nós conhecida,
A sua nave central
Pelo cura paroquial
De então, foi logo erguida,
E nas partes laterais
Por bons artistas locais
Foram feitos santuários,
Onde o povo ao seu Santo
Desabafa o seu pranto
Rezando os seus rosários.

A Igreja da devoção
Do lagartense cristão,
Foi sua etapa final,
Inclusive as suas torres,
Construída com os favores
Do povo de modo geral
Com o aval do Vigário
Muito ativo e humanitário
Monsenhor Daltro, o amado,
Que chegou nesta cidade
Em meio a segunda metade
Do século último passado.

A construção das arcadas
Feita em épocas passadas
Pelo Monsenhor Marinho
Sacerdote Português
Chegado em trinta e três
Para o ritual do Pão e Vinho
Na Paróquia de Lagarto
Teve apoio bastante farto
Para a obra referendada,
A qual deu sensacional
Visão na Igreja Paroquial
Depois dela terminada.

A nossa casa de Oração
De sólida construção
E belo porte frontal,
Com a reforma interna
E restauração externa
Tornou-se orgulho real
Desta gente laboriosa
Que deu ajuda valiosa
À nossa Igreja querida,
E ao bom Monsenhor Mário
Nosso dinâmico Vigário
Nossa gratidão decidida.

Completando a imponência
Do nosso templo em referência,
O Poder Municipal
Do nosso querido torrão
Construiu um calçadão
Que deu belo visual
Na frente e todos os lados
Com fortes globos instalados,
E um possante gradil
Foi posto nas laterais
Para amparo dos ideais
De Lagarto, Sergipe, Brasil.

Lagarto, 5 de setembro de 1987.

2 comments

Rafaela Carvalho

Diante de história de pessoas como a do saudoso José Vicente de Carvalho, orgulho-me de ser lagartense e, como futura historiadora, poder, assim como ele, deixar um legado de contribuições para memoria da nossa querida Lagarto. Desse modo, recorro a indicações para a construção de um artigo científico, cujo tema resgate uma memoria lagartense que, por anos, ficou esquecida na história da nossa belissima Lagarto.

Vandemir Belzunces Melo

O que posso dizer desse homem, além de tudo o que foi dito, é que, sem dúvida, foi um grande ser humano, com muito amor por seus semelhantes. Sou prova viva disso. Passei 4 anos em Sergipe. Sou paulista, filho de europeus. Cheguei a Lagarto sem nada, não conhecia ninguem. Com muita sede, debaixo de um sol muito quente, caminhava à procura de trabalho e lá passava eu por uma rua desconhecida, quando à sombra de uma arvore me refrescava, uma senhora simples, mas com imenso amor me ofereceu um copo de suco. Dai surgiu uma grande amizade, pela qual sou eternamente grato a todos da familia. Que saudades de Dona Julieta e Jose Vicente! Sou o Miro.

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