Lagarto: um pedaço do Brasil, cuja força do seu povo é admirável
Por vezes, o nosso município se preparou para receber grandes artistas e outras personalidades. Essas ocasiões inspiraram-me a escrever uma história que, por certo, traduz a pujança do povo nordestino, a partir do resgate da memória de um admirável lagartense nascido no lugarejo que hoje denominamos de bairro Horta, em Lagarto. Refiro-me a Eronides Alves de Oliveira, nacionalmente conhecido como Eron, cujo sucesso, sobretudo na década de 60, difundiu-se até outros países através da Erontex*.
Eronides era um rapaz simples, que deixou sua terra para conquistar novos espaços. Em sua trajetória de comerciante e em meio às dificuldades do dia-a-dia, na grande São Paulo, resolve dar um voo mais alto com a criação de carnês da sorte, cujas vendas introduz no mercado em meados dos anos 50, quando concedia até veículos como prêmio, a exemplo de automóveis Simca Chambord e Simca Jangada. A partir de sua ideia e do êxito nas vendas, como não poderia ser diferente, surgem as “Cestas de Natal Amaral” e outros carnês. De olho nesse mundo de ascendência de Eronides, que aos poucos passava a ser chamado de Eron, estava Señor Abravanel, hoje popularmente conhecido como Sílvio Santos, que, seguidor do sucesso do lagartense, adquire essa ideia para o Baú da Felicidade, através de Manoel de Nóbrega (fundador do programa “Praça da Alegria”, atualmente sob o comando do seu filho, Carlos Alberto de Nóbrega, mas com o nome “A praça é nossa”). É sabido que o saudoso Manoel teve dificuldade em dar continuidade aos Carnês por conta do seu envolvimento com diversos assuntos como política, rádio, TV, tudo ao mesmo tempo, além de ter sido desapontado por um sócio, com quem fundara o Baú da Felicidade.
Após o desentendimento, Manoel de Nóbrega contou com a ajuda do jovem Sílvio Santos, com quem trabalhou no rádio e passou a dividir a sociedade do Baú da Felicidade, já que Sílvio demonstrava grandes habilidades comerciais. O progresso do carnê foi tão grande e rápido, que o senhor Manoel entregou sua parte da sociedade a Sílvio, que, com 100% das ações, acelerou ainda mais sua ascensão rumo ao sucesso financeiro. Daí, começaram a surgir outros negócios.
Para quem não lembra, o Baú era um tipo de poupança popular, em que o cliente pagava as mensalidades durante um ano e, ao final, resgatava esse valor em mercadorias. Um método discípulo da Erontex, que recompensava com cortes de tecidos, os portadores de carnês quitados e não premiados, com utensílios e veículos. Hoje, é possível adquirir uma série de produtos através do carnê, mas, no começo, havia somente um artigo disponível: uma cesta de Natal com gêneros alimentícios e brinquedos, por isso, o nome baú.
É raro encontrarmos um ramo em que o Grupo Silvio Santos já não tenha feito experiência. Na verdade, a diversificação sempre foi um dos atributos desse grupo, que nasceu por volta de 1958. Naquele tempo, o negócio dos carnês já despontara com a Erontex no mercado.
Entre as pessoas que trabalharam com Eron, registre-se o senhor Flávio José Rocha, integrante do departamento de contabilidade de sua empresa (1958/1959), quando o escritório funcionava na Praça Antônio Prado, esquina com a Rua São Bento, 1º andar, em frente ao Prédio Martinelli, em São Paulo. O Sr. Rocha – a quem tributamos nosso agradecimento pela contribuição para o enriquecimento desta matéria -, mantinha contatos praticamente diários com Eron e com J. Silvestre, este, garoto propaganda da Erontex da Sorte na TV.
Vale ainda lembrar que artistas de conceito nacional, a exemplo da atriz Neusa Amaral (TV Excelsior – São Paulo), também gravaram comerciais para o nosso Eron.
Apresentações históricas, como a do cantor e pianista Ray Charles (1930-2004), que tocou em São Paulo em setembro de 1963, no auge de sua carreira, com shows gravados e exibidos pela rede de televisão Excelsior, foram patrocinadas pela extinta Erontex.
O cantor Roberto Carlos estrelou filmes na década de 1960. O primeiro deles foi o longa-metragem “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, em que, na cena de embarque do artista a Nova York, sua bagagem é mostrada com selo da Erontex Exportação, imagem que passa um bom tempo em exibição e que se repete, por vezes, em ângulos diferentes. Uma relíquia, hoje gravada em DVD e também disponível na Internet, para eternizar a história do conterrâneo Eronides Alves de Oliveira.
Ao que dizem, foi em suas idas e vindas de São Paulo a Brasília, que Eron realizou a compra de um bilhete de Natal, que estava sendo oferecido no aeroporto e que tripulantes de uma companhia aérea recusaram, por nele haver uma sequência de números iguais, o que o levou a ganhar o prêmio sozinho e a consolidar sua fortuna.
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*Instituição que deu origem ao Grupo Eron, formado pelas empresas Eron Indústria e Comércio de Tecidos S/A, Têxtil Santa Eugênia, Lojas Eron S/A, Eron Magazine e Eron Administração e Participação de Bens.
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