Uma professora além do seu tempo
Extraído do Jornal SergipeHoje – Ecos & Letras – Cultura
Ao longo dos anos, a mulher tem-se empenhado num corpo-a-corpo homérico para se firmar no mundo moderno, espaço este primordialmente restrito à supremacia masculina. Em nosso país, foi no âmbito cultural, primeiramente, que a intelectualidade feminina começou a despontar, muitas vezes inspirada por talentos como Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, entre outros. Tal conquista foi lenta, progressiva e, no começo, restrita ao espaço da educação e da cultura. A exemplo de Brasil, na terra de Sílvio Romero não poderia ser diferente. Portanto, restringiremos o nosso enfoque à professora Maria da Piedade Hora, por ocasião de mais um aniversário seu, são anos de existência vivenciados, sobretudo, na perseguição diuturna da cidadania da mulher.
Sua atuação, diversificada, tem demonstrado, em cada campo, sua vocação inata para a cultura e a educação, seja como docente ou ocupante de funções afins. A participação de Piedade Hora foi de fundamental importância em algumas administrações municipais, pelo calor rebelde emprestado às suas atitudes, vivacidade essa aliada ao seu talento e profissionalismo, o que bem reflete o estágio de amadurecimento cultural da mulher sergipana. Em qualquer dos âmbitos aludidos, ela tem-se revelado dona do seu próprio nariz, às vezes pagando um preço que vai além do seu limite como ser humano.
A professora Maria da Piedade Hora nasceu em Lagarto, onde fez seus primeiros estudos, mais tarde ingressando na Universidade Federal de Sergipe até a conclusão do Curso Superior. Filha de comerciantes, advindos de família singela, aprendeu, desde cedo, a gerenciar a própria vida ao lado da sua genitora “Dona Beata”, como era afetivamente chamada. Na década de 60, abre as primeiras turmas para ministrar aulas a jovens lagartenses, o que lhe confere entusiasmo para fundar a escola que mais tarde vai se tornar a sua marca registrada – o Educandário “Dom Frei Vital”. A escola cresce e, cuidadosamente, reúne em seu pequeno espaço um seleto quadro de professores que, no desempenho de um trabalho conjunto organizado, vai consolidar a credibilidade da Profª Piedade Hora diante da sociedade.
Na década de 70 é convidada para administrar a Secretaria de Educação, Cultura e Turismo do município de Lagarto, onde espalha as primeiras sementes que lhe abrem portas para dirigir inúmeros estabelecimentos de ensino nas décadas seguintes, a exemplo das escolas Sílvio Romero, Evandro Mendes e Leite Neto.
Nos anos 90, já às vésperas de sua aposentadoria, mas ainda com muito vigor, retorna à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, para ali deixar registrado o seu empenho pelas causas que se voltam para tais vertentes.
Mãe de Larissa, Lara, e Alysson Henrique, frutos de sua união matrimonial com Anacleto de Jesus, hoje, Piedade Hora se dedica à leitura, ao acompanhamento dos filhos e neto(s), mas ainda guarda tempo para o contato com familiares e amigos de sua estima. Em meio a gestos e atitudes, enleva-nos o seu prazer em divulgar, por onde passa, sua identidade de mulher lagartense.
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