A Fila
Milton Oliveira*
Recentemente, as artistas plásticas de São Paulo, Gigi Manfrinato e Sandra Lee, premiaram os sergipanos com uma exposição de 18 bonecos, em tamanho humano natural, confeccionados à base de papel, cola, fibra de vidro e gesso. A Fila – título atribuído à exposição – que ficou um mês no Shopping Jardins, em Aracaju (SE), retratava as diversas situações de um grupo totalmente democrático, onde punks, mocinhas românticas, senhoras de idade, desocupados e bêbados conviviam em pé de igualdade. O que mais chamava à atenção dos que ali paravam, era a figura do bêbado, caído ao chão, um cigarro na mão, vigiado pelo seu melhor amigo – o cachorro, resgatando um velho dito popular: mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro.
Essa analogia é para retratar cenas comuns no cotidiano das pessoas, principalmente no que tange aos idosos e aos portadores de cuidados especiais. O respeito pelas pessoas da melhor idade (metáfora para amenizar o termo “velhos”) não existe mais. É comum seus espaços serem invadidos por jovens, ou pessoas adultas, que se fazem de desentendidos em benefício da própria comodidade. Nos estacionamentos reservados a essas pessoas, o que se vê é um total desrespeito. É preciso, de vez em quando, intervenção das autoridades de trânsito no sentido de chamar à atenção pela falta de educação dessa gente que pensa que não vai envelhecer. Pura comodidade, já que as vagas reservadas para os idosos e deficientes físicos, ficam em pontos estratégicos.
A gente andando pelas ruas vê coisas absurdas: motoristas jogando pelas janelas de seus automóveis materiais plásticos (copos, sacolas, garrafas de refrigerantes). E são pessoas de um bom padrão sócio-econômico-financeiro, mas sem nenhuma educação. Uma certa vez, dirigindo na Avenida Beira-mar, em Aracaju, no sentido praia, o motorista do veículo que ia à minha frente jogou um coco pela janela, e quase que atingiu meu carro, provocando um acidente. E nas praias! Verdadeiros absurdos. Pode-se ver de tudo: fraldas descartáveis, coco, camisinha, resíduos de despachos (galinha preta, vaso de cerâmica, garrafas de vidro), material plástico, móveis e utensílios…
Essa aconteceu comigo. Estava na fila do estádio Lourival Baptista (Batistão), para assistir ao jogo Confiança e ASA (de Alagoas) e, de repente, se aproximou um garoto que tinha a idade de ser meu filho, na maior cara-de-pau, cortou a fila na minha frente e cruzou a roleta. Deveria ter uns 90 quilos, com quase dois metros. Claro que eu não ia trombar com ele, mas se eu fosse abordado pelo infrator, só diria que os meus direitos ainda estavam em curso. Nesse caso A Fila deixou de ter o caráter democrático, pois as pessoas preferem o individualismo em benefício próprio e esquecem, ou não foram educadas para isso, que o direito de um começa quando termina o do outro.
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*Funcionário aposentado do Banco do Brasil
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