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Delírio lagartense novamente

As ruas de minha cidade me convidam para contar histórias. Repletas de memórias, elas alimentam a minha identidade e me põem a falar de poetas, artistas, políticos e outros. Tão sereno é meu compasso, que as rezas da mulher parideira me despertam o sono da criança fugidia que ouviam os pardais naquele final de tarde.

Sinos tocavam sem parar. Nos ecos de suas badaladas, a moçada volta do trabalho. Seu Menino na praça lhe vende pipoca e as velhas beatas, de preto e medalhas correm para o terço e para a missa. Do palanque, estridente, se vê um homem demente fazendo promessas, a discursar.

Ah, a meninada. Essa, toda ouriçada, corre na praça a tecer outras linhas de gerações advindas, enquanto Mita, torta, abraça alguém. Velhos e moços, todos, num só alvoroço benzem-se em frente à Matriz e à Virgem. Uma moça generosa, que passa desconfiada, também faz o gesto, esperando ao certo, o passar de alguém.

Nos versos do poeta (sentado até altas horas da madrugada no monumento) as cenas que só Lourival e Zé Carlos pintavam na tela. Não fossem Adgenal e Leustênisson, a arte morria de agonia, como São Benedito, lá no altar esquecido.
De certo que Lampião aqui não tivera, tendo estado o Conselheiro. Mas, não sem demora, pariu Nossa Senhora o Cangaceiro Zé Padeiro. Zabumba meu coração, tomba minha gente, quando tonta dos Parafusos, em lamúrias, vai se queixar a viúva e a Dona Maria Teles, ajoelhada aos pés do Senhor.

Saraiva Salomão manda prender, novamente, Pitangueira. Ribeirinho e Artur Reis mandam soltar, dizendo que Frei Cristóvão foi falar com Eliseu, que homem “igual a eu” só Cabo Zé e Eliseu. Daltro, sem demora, não temendo o andar da hora, saca do bolso um discurso, que Possidônio, armado, lhe tirou da mão. Manelão com escopeta e Martim Almeida com baioneta puseram ordem na confusão, e a Polícia, só corria atrás do ladrão, que em maldita sina, nada mais era do quê o Doido de Vina.

Corram ponteiros, façam-se pandeiros, ninguém é mais faceiro que a memória: corre a vida, registre a história, pois não vai longe o dia, em que todos em romaria vão louvar as suas glórias. Benzam Padres, paguem até os vinténs, mais história igual a essa, outra igual, não é de ninguém. É mais uma de minha safra, quem quiser que desfaça, pois ainda que lhe roam as traças e lhe maldigam a desgraça, foi minha, é de minha praça.

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