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100 anos de Olda Dantas

Olda do Prado Dantas, nascida em Simão Dias (SE), em 3 de março de 1912, fruto da união entre Manoel da Fraga Dantas, farmacêutico, e Gregória do Prado Dantas, professora, é pessoa rara, e acabou de completar 100 bem vividos anos.

Cresci muito perto dela, por ser minha tia-avó, o que foi decisivo em minha vida, pois pude presenciar uma vida embasada na Bíblia, vivendo a sua fé, sempre falando e agindo com prudência e bondade.

Olda cresceu num lar protestante, tendo como costume ler a Bíblia diariamente e orar antes das refeições. Lembro-me de minha vó Carmem – irmã de Olda – contando que na sua infância, aos domingos, não se cozinhava, roupas não eram passadas nem a casa era varrida, este dia era separado exclusivamente para o Senhor, para ir à Igreja, ler a Bíblia, fazer orações e visitas.

Quando terminou os estudos por aqui e não havendo em Simão Dias estabelecimento de Ensino Superior, dirigiu-se ao Colégio Americano em Ponte Nova (BA), onde concluiu o Curso Normal. Em 1934, voltou a Simão Dias e foi nomeada professora nas Escolas Reunidas Augusto Maynard. Concluiu também um Curso de Suficiência em Canto Orfeônico e em Educação Física, em Aracaju. Lecionou no Grupo Escolar Fausto Cardoso e no Ginásio Industrial Dr. Carvalho Neto, hoje, o Colégio Estadual Milton Dortas.

Submeteu-se ao concurso para serventuária da Justiça, sendo aprovada e nomeada ao referido cargo.

É admirável esse desejo dela de crescer continuamente. Naqueles tempos, tudo era difícil, para se ter uma idéia, para se chegar à Ponte Nova, era preciso pegar trem, navio e um pedaço andando a cavalo, perfazendo uma viagem de três dias. No entanto, nada foi empecilho para ela. Venceu todas as provas que a vida lhe apresentou.

Ela não faz parte do time de idosos que se enterram em casa esperando a morte chegar. Sua vida é ativa, lê diariamente tanto a Bíblia como outros livros, ajuda muitas pessoas, faz visitas, vai à sua igreja semanalmente.

Viu a Igreja Presbiteriana de Simão Dias ser iniciada, afinal foram os seus pais juntamente com outro casal, os fundadores. E, desde cedo, aprendeu a  envolver-se na obra de Deus. Participou da organização da Escola Bíblica Dominical, sendo professora de adolescentes e jovens. Por seus serviços prestados como professora, recebeu o título de Professora Emérita na referida igreja.

Participou da fundação da SAF, grupo de mulheres da Igreja Presbiteriana, em 1935. Sempre atuante durante todos esses anos, exerceu vários cargos, inclusive o de presidente por várias vezes.

Poderia ser uma pessoa de mente fechada e preconceituosa, mas não. Sabe conviver bem com pessoas de outras religiões, sendo amiga de todos. Ela parece compreender bem o que está em Romanos 14.4: Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio Senhor, ele está em pé ou cai…

Mas se há algo que admiro em tia Olda é a sua maneira suave de encarar a morte. Seu irmão Natan morreu precocemente, aos 36 anos, depois morreu o outro irmão Jairo, depois o pai, a mãe, as irmãs Carmem e Noeme. Como últimos golpes vieram as mortes do sobrinho Manoel Mário e da melhor amiga, Elísia Montalvão. Ela poderia sentir-se solitária, entristecida e deixar-se tomar por murmurações. No entanto, isso nunca aconteceu.  Sua vida espiritual lhe dá o suporte necessário para ser forte e encarar a morte como uma cristã que é, ou seja, passagem desta vida para outra. Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus (2 Coríntios 5:1).

Esta, que tanto prezo, sabe olhar a vida sob uma perspectiva positiva. Li, certa feita, um história que conta que um rei teve um sonho: todos os seus dentes caíram, só restando um.  Um interpretador de sonhos disse que toda a sua família iria morrer dentro de pouco tempo. O rei ficou indignado com tais palavras e mandou executar o rapaz.  Outro interpretou o sonho a partir de uma perspectiva positiva. Disse que o rei teria a vida mais longa do que todos os seus parentes. Assim o rei aceitou o significado do sonho. Vejo em Tia Olda a mesma atitude do segundo interpretador de sonhos, apega-se ao que é bom.

Chegou aos cem anos com saúde física, mental, social e espiritual. Por tudo isso, digo que ela não é uma pessoa normal, tendo em vista que normal vem de norma, maioria. A maioria não é como ela. E nós realmente não temos nada a ver com a maioria, havemos de lembrar-nos o que está em Êxodo 23:2, “não seguirás a multidão para fazeres o mal”. Alguém já disse que a multidão é burra.

Creio que ela pode dizer como disse Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Timóteo 4:7-8). Eu glorifico a Deus a oportunidade de conviver com esta mulher sábia, pacífica, temente a Deus e caridosa.

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2 comments

Wilson Nunes de Oliveira

É verdade Renata, graças a Deus fui aluno dela no Grupo Escolar Fausto Cardoso, em Simão Dias. Lembro-me que ela ministrava suas aulas com eficiência, paciência, dedicação, amor e carinho. Quantas saudades daqueles bons tempos. Obrigado, minha doce e sempe querida professora OLDA DO PRADO DANTAS. Obrigado mesmo!

Rose Santana

Eu amo saber o passado. Se eu pudesse moraria no memorial da cidade.
Parabéns, Renata!

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