“[…] Senhor Silveira, não me morra!”
Jornalistas brasileiros que cobriram a Segunda Guerra Mundial
(Joel Silveira é o segundo (sentado) a partir da esquerda)
Durante a Segunda Guerra Mundial o jornalista Joel Silveira trabalhava para os Diários Associados, no Rio de Janeiro. Na época, ele confidenciou a amigos que estava decidido a se inscrever para atuar como correspondente de guerra junto aos soldados da Força Expedicionária Brasileira que estavam sendo embarcados para a Itália.
Quando a notícia se tornou pública o Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, demonstrou insatisfação com a ideia de ter Joel na guerra porque entendia que o jovem jornalista era comunista.
O notável jornalista sergipano demonstrou contrariedade com a manifestação do General Dutra, mas em momento algum recuou de seu desejo em cobrir a guerra.
Ao conversar a respeito com Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, a primeira reação não foi nada positiva, porque Chateau não achava legal “mandar esse menino de Sergipe para a guerra”, conforme já tinha confidenciado a amigos.
Mas, como naquela época eram poucos os jornalistas decididos a aceitar tal missão, Chateau acabou por entender que Joel Silveira tinha tudo para realizar um grande trabalho na Itália. Ato seguinte, conseguiu do Presidente Getúlio Vargas a autorização que Joel tanto desejava, contrariando o temido DIP/Departamento de Imprensa e Propaganda – órgão criado durante a ditadura do Estado Novo – e, também, o Ministério da Guerra.
Chamado a comparecer ao escritório do chefe, Joel recebeu a notícia que aguardava com enorme expectativa… quer dizer, não bem uma notícia, mas uma ordem:
– O senhor vai para a guerra, mas não me morra, senhor Silveira, não me morra! Repórter é para mandar notícias, não para morrer!
Corria o ano de 1944, Joel Silveira tinha 26 anos.
JOEL SILVEIRA
(15/03/2010)
Em cem artigos, reportagens e publicações que li a respeito do jornalista Joel Silveira, noventa registram que ele – o notável repórter brasileiro na segunda guerra mundial – teria nascido em Lagarto. Ao noticiar a morte do magnífico jornalista sergipano – tido por muitos como o maior repórter brasileiro – a Folha de São Paulo informa textualmente “…Silveira tinha mais de 60 anos de carreira no jornalismo. Nascido em 1918 na cidade de Lagarto (SE)”.
Dezenas e dezenas de outros jornais e sites – como o da Associação Brasileira de Imprensa – também deixaram o registro que Joel era filho de Lagarto. Eu cresci achando que ele era meu conterrâneo do Lagarto.
A primeira vez que eu tive contato com Joel foi no ano de 1984, quando ele, convidado pelo então governador Antônio Carlos Valadares, ocupou o cargo de Secretário de Estado da Cultura. Repórter da TV Sergipe, tinha entrevista agendada com ele. Cumprida a parte oficial da visita, eu, de uma vez por todas, precisava passar tudo a limpo. Após me identificar papa-jaca de quatro costados, perguntei:
– Joel, você nasceu em Lagarto?
– Não, bem que eu gostaria, pois minha família é lagartense. Na verdade, eu nasci aqui em Aracaju.
A verdade mexeu com o meu lado bairrista. Ao sentir isso, ele me deu uma colher de chá:
– Ora, não esquenta. Fui gerado no Lagarto e nasci na Rua Lagarto… só que em Aracaju”.
Joel me deu um abraço e ficamos entendidos.
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