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Da loucura homicida de Bush à visão de Déda

As notícias surgem de todas as partes do mundo criando situações inusitadas. Sempre foi assim, e agora o que a imprensa produz chega mais rápido a bilhões de pessoas, graças aos avanços tecnológicos que se modernizam e se multiplicam em rapidez surpreendente. Há duas semanas, enquanto diante da TV, os povos de todos continentes assistiam maravilhados à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, a milhares de quilômetros dali, a Rússia invadia a Geórgia. O espocar da artilharia bélica dos russos – na costa leste da Europa – se confundia com os fogos de artifício do lado de fora do Ninho do Pássaro, o majestoso estádio olímpico construído pelos chineses. Do êxtase à agonia, tudo foi imediato. O planeta de líderes como George W. Bush e Dimitri Medveded tende a sucumbir sob o domínio da loucura incurável, levando todos nós como passageiros da desesperança. Não há saída porque o homem ao longo da história tem demonstrado ser incapaz de recuar diante da violência ou do diálogo, mesmo as vitórias diplomáticas têm se revelado insuficientes para deter a escalada de ódio que todos os anos resulta em milhares de mortes. A vida está morrendo na tela da TV.

Gostaria muito de dizer ‘ora bolas, e eu com isso?’- mas, o quê! Habito um pedaço dessa aldeia, a mesma do leitor já acostumado com a natureza alterada do mundo a partir do comportamento do tempo e de seus reflexos no cotidiano da rotina aqui em baixo. Agora, sentado em frente à tela do computador, que nos últimos tempos tem causado problemas a minha saúde, leio as últimas notícias da noite. Os olhos ardem. Há 17 anos, quando os operei, tive uma dessas sensações que a gente traduz de única, embora minha vida tenha outros exemplos de experiência ‘única’. Instalado no centro cirúrgico de uma clínica, e só com um único olho míope escancaradamente aberto por obra de uma presilha retentora, eu ouvia atento o Dr. Haroldo Góes me passando informações de como seria o procedimento. Ele falando. Eu, a tudo ouvia, sem poder bater aquele olhão aberto sendo lubrificado a todo instante pela enfermeira. Oito incisões no olho direito, o primeiro a ser operado. O esquerdo só umas três semanas após ter certeza do sucesso da primeira etapa da empreitada. Todos já ouvimos falar que “quem tem dois tem um…”! Pois é. Se desse errado, eu ainda teria o olho esquerdo para observar o resto do mundo ser destruído por gente da escola de George W. Bush. Jamais imaginei que eu veria todo o procedimento cirúrgico pelo próprio olho que estava sendo operado. Até então, minha ignorância não me permitia ver literalmente a complexidade da confusão que eu tinha me metido. Pois foi assim. A cada incisão – das oito feitas – eu sentia o órgão operado tocando no meio do cérebro, mexendo com os brios da alma, fazendo-me suar como nunca. Mas, na época, 1981, era assim. A tecnologia visionária ainda estava a caminho. Tinha um bom médico e a esperança de que no futuro poderia repetir o procedimento, uma vez que na primeira tentativa o sucesso foi apenas parcial. Há dois anos, doutor Haroldo Rollemberg me propôs repetir a cirurgia, agora a laser. Preferi que não. Acostumei-me com minha miopia. Do jeito que governam nossas vidas, melhor deixar como está, até Deus mudar o atual estágio das coisas. Infelizmente, os homens já provaram que são incapazes de chegar a tanto. Já tiveram 7 vezes 70 milhões de oportunidades. Deu no que deu. Ou no que está dando.

Ontem à noite quando cheguei em casa, vi sobre a mesa uma carta endereçada a mim por importante instituição de ensino do Estado. No rosto do envelope, meu nome e endereço, e um pouco abaixo, no rodapé, uniforme, os endereços onde o remetente poderia ser encontrado. Era a primeira vez que o ‘rosto’ de um envelope surgia mais importante do que o conteúdo até então ainda desconhecido. Lá estava impresso:

Universidade Tiradentes
Campus Aracaju Centro – Campus Aracaju Farolândia –
Campus Estância – Campus Itabaiana – Campus Propriá

Senti que ali faltava o Campus Lagarto.

Por um bom tempo fiquei olhando o envelope, enquanto tentava descortinar um quadro mais otimista para o retrato desfocado de uma realidade que não era mais criança. Em 2003, durante visita ao incrível campus da Unit/Farolândia, fiz ao Reitor Jouberto Uchoa uma pergunta que coloca o leitor no contexto de minha inquietação:

Mais do que uma pergunta, era uma cobrança.

– Professor, por que não um campus da Unit em Lagarto?

A resposta rápida:

– Seu prefeito não quis, meu filho.

Depois da resposta impactante, veio o relato da viagem a Lagarto com o propósito de definir com o governo municipal a instalação da Unit.

Na Prefeitura de Lagarto, o reitor não encontrou receptividade. Recebido sem nenhum clima de cordialidade, ele saiu da audiência com o prefeito consciente que o município não tinha o mínimo interesse em abrigar o Campus da Unit, justamente aquele que continua até hoje faltando no envelope da importante instituição.

Oficialmente, Lagarto disse ‘não’ à Unit. A juventude que se danasse. O extraordinário Jouberto Uchoa retornou triste a Aracaju, ele queria a sua universidade nos quatro maiores municípios do interior sergipano. Tinha certeza de que seria simples se estabelecer na terra de Sílvio Romero e Laudelino Freire. Deu-se mal.

A prefeitura tinha outros interesses.

2008. Cinco anos após o meu diálogo com o reitor da Unit, Lagarto está a caminho de viver um dos maiores acontecimentos de sua história.

Brasília, 14 de agosto, quinta-feira. Depois do sinal verde do Presidente Lula, em 23 de julho, o governador Marcelo Déda entregou pessoalmente ao ministro da Educação, Fernando Haddad, o projeto de criação do Campus da Saúde. O ministro demonstrou entusiasmo com o projeto, sobretudo pela integração saúde-educação, que será possível após a construção do novo campus, já que ele será erguido na mesma área do Hospital Regional de Lagarto. A nova unidade hospitalar, que está sendo edificada pelo Governo de Sergipe, será a âncora desse novo campus. A propósito, em Brasília, o governador Déda foi bastante claro:

“A nossa luta é para que a unidade seja credenciada como hospital-escola, levando a extensão universitária para Lagarto”.
Dados a considerar:

– a obra é estimada em R$ 20,6 milhões;
– projeto: Universidade Federal de Sergipe;
– cursos oferecidos: 7 – Medicina, Odontologia, Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Farmácia e Nutrição;
-números de vagas iniciais: 100 para cada curso.

Como forma de acelerar o processo, o governador aceitou financiar 50% da obra, otimizando a parceria com o governo federal. Além disso, o governo do Estado tem disposição de desapropriar o terreno onde será erguido o novo campus. Decidido, o governador entende que “com o hospital e o campus será possível criar um pólo de educação superior na região, que atenderá a demanda crescente por profissionais do setor no estado e beneficiará a juventude sergipana”.

Com as cartas postas à mesa, resta rezar e esperar. Ao contrário do que aconteceu quando da tentativa da instalação do campus da Unit, a Prefeitura de Lagarto não tem como usar de sua influência para impedir que o Governo Federal comece a escrever um dos mais importantes capítulos de toda a história de Lagarto.

Inaugurado o novo período, os lagartenses devem, agradecidos, estender as mãos ao governador Marcelo Déda pelo feito extraordinário. Por motivos óbvios, sou muito criterioso na hora de elogiar políticos, penso muito antes de cair na tentação, mas quando o faço é porque não me sobrou uma única saída. Seis dias antes de assumir o Governo do Estado, Déda me concedeu uma hora e meia de entrevista para uma emissora de televisão. Antes de encerrar a entrevista, eu tive bons motivos para elogiar o homem que se preparava para a grande missão de governar Sergipe. Com visibilidade nacional, citado várias vezes pela grande imprensa do país como nome com expressão para concorrer à presidência da República em 2010, Déda tem um longo caminho pela frente ajudando a construir o Estado que merecemos.

Quando o campus da UFS em Lagarto for realidade, o mérito será dele. De Marcelo Déda Chagas.

Que os políticos da região sejam comedidos. Muitos deles vão dizer publicamente que só ‘arredaram pé’ do Ministério da Educação após o anúncio do Campus. Ou que tiveram participação decisiva. Ou, ainda, que já vinham lutando há vários anos para que o objetivo fosse atingido. Por conta da canalhice, vão estender faixas ao longo de ruas, praças e avenidas da cidade. Enfim, muitos sem-vergonhas vão exigir um bom percentual do feito do governador.

Parodiando o bravo Senador Mão Santa, “Atentai bem, lagartenses!”

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