Carregando agora

Espelho d’água

Maravilhoso tempo comigo, viajando por águas distantes, eis que avisto casinhas multicoloridas refletidas n’água juntas ao pôr-do-sol que a tudo banha com sua luz amarelo-alaranjada. É quase um torpor, como o prenúncio de um gozo, inspirar-me e me ver parte deste cenário reluzente.

Nas águas, banho-me com a sensação de que ficará ali tudo o que é peso e desconforto. Na cabeça, sinto o alívio esperado com o chuá das águas e cada vez mais serena desfruto deste momento que poderia me escapar, mas não vai porque estou fazendo história dele. Surpreendida pelo borbulhar das ondas que soa como um lembrete: comemore a vida, comemore a vida!

Ali, vi que muitas pessoas tocam o seu dia na labuta de suas casas. Mulheres de pano amarrado na cabeça lavam à beira do rio, outras ralam milho, imagino que para o cuscuz de logo mais à noite, homens pescam e crianças brincam à brisa ribeirinha. As andorinhas cantam a canção de todo dia. É um assobio tão aprazível de ser ouvido, que modifica o mais profundo ânimo do meu interior. Aqueles seres pequeninos são as testemunhas de que tudo ali repousa no seu devido lugar. A natureza é como casa querida, cama em que se refaz as forças.

Reparo mais uma vez nas cores do céu e presencio uma súbita mudança em seus tons. Olho e já não vejo o alaranjado, agora é o rosáceo que assume a cena, mas que logo se dissipa dando lugar ao azulado, e este, daqui a instantes, sumirá para a escuridão reinar.

Embriagada com a visão, sinto-me completa. Agora, a tarde pode cair, porque já me encontrei, e amei, no brilho das cores. Sinto todo o bem que a vida tem para mim.

Publicar comentário