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Adeus ao pioneiro de nossa história

 

Março, dia 17, Lagarto acorda triste com a perda daquele que primeiro se preocupou em preservar nossa identidade cultural – Adalberto Fonseca. Impossível falar da vida do município sem mencionar sua importância. Homem de outra terra, à nossa soube expressar seu afeto e dedicação. Adalberto de tantas histórias e polêmicas, de escritos em verso e prosa, eminente historiador, de quem, jovens de hoje e do meu tempo guardarão para posteridade a maior contribuição deixada para organizar a história de Lagarto.

Parte o homem; ficam suas obras, seus ensinamentos. Há muitas coisas para serem ditas, mas o silêncio, este grande sábio, é mais forte que palavras.

Rabisquei inúmeros artigos (inacabados) para registrar sua caminhada e abnegação à nossa história, até fazer a leitura de um texto escrito pelo Prof. Valdiêr Cézar, que tomo a liberdade de transcrever.

ADALBERTO FONSECA
Um coração lagartense

Pelos quase sessenta e quatro anos vividos no município sergipano consagrado a Nossa Senhora da Piedade, Adalberto Fonseca, um de seus mais conceituados cidadãos, primou pela externação de sua flama de empatia com as nossas raízes.

Oriundo de Campo do Brito (SE), onde nascera, ingressa aos dezessete anos na Marinha, em Salvador (BA); posteriormente, passa a estudar no Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro (RJ). A partir de 1937, atua como promotor público em sua terra natal, e, a seguir, como escrivão de coletoria em Divina Pastora (SE) e em Lagarto (SE), onde se estabelece em definitivo, após contrair núpcias com Elza Almeida Santos.

Sua vida, aqui, não se resumiria, adiante, ao mero cumprimento da função pública. Sob o incentivo de sua abnegada Elza, dotado de espírito aguçado, perspicaz, impulsiona-se, gratuitamente, aos estudos e conhecimento da história e fatos, contos, mistérios e segredos do local que o acolhera, e dos quais se torna, indubitavelmente, seu maior conhecedor, superando em vivência e estreito vínculo com o seu chão, outros vultos daqui, nacionalmente afamados.

Colaborador de semanários como A Voz de Lagarto, em pequenos artigos, inicia um processo de reeducação civil dos lagartenses, que, como tantos outros residentes de municípios vizinhos, alheios às suas mais importantes e significativas datas, apenas comemoravam o 7 de setembro.

Em 1972, sob os auspícios da prefeitura municipal – gestão de José Ribeiro de Souza -, desenha a bandeira e brasão, compõe o hino do município. Em 1981, o Opúsculo sobre Lagarto de sua autoria, patrocinado pelo BNB, é editado; oito anos após, a História de Campo do Brito, com subvenção da prefeitura desse município.

Volta-se, então, Adalberto Fonseca, com pleno entusiasmo ao folclore da região, priorizando o soerguimento dos grupos Parafusos, Cangaceiros e Taieiras, estímulo suficiente para projetar, com premiação, os primeiros, no Encontro Nacional de Folclore realizado em Olímpia (SP), em 1982. Em abril de 2003, já visivelmente abatido, tem publicado seu maior trabalho, História de Lagarto.

A identidade cultural do povo lagartense está dividida em dois períodos – antes e depois do historiador. Nas duas últimas décadas de sua laboriosa existência, na devotada companhia de sua segunda esposa, Maria do Amparo Viana Fonseca, direciona-se ao atendimento de pessoas – estudantes, professores, artistas, pesquisadores, curiosos – que o procuravam a fim de dirimir impasses de questões históricas ou fatos referentes a nossa terra.

Em seus ingentes esforços para preservar a memória lagartense, Adalberto talvez não tenha sido inteiramente compreendido; por certo, a posteridade lhe fará justiça, entendendo que sua única ambição era, como lídimo filho de Lagarto a que se dedicou com perseverança, valorizar esse bravo povo e sua bela história.

2 comments

Paulo Nogueira Fontes

Como sempre, de parabéns o professor Rusel, que não se esquece dos seus conterrâneos! Nos tempos da ASCLA (Associação Cultura de Lagarto), conheci o historiador Adalberto Fonseca, que passou grande parte da sua vida dedicando-se à história de Lagarto. Foi, muitas vezes, injustiçado por políticos ignorantes que não perceberam a grandeza do seu trabalho. Mas as pessoas que testemunharam suas pesquisas souberam e sabem hoje o quanto ele fez pelo nosso município em termos de divulgação da sua história.

Clotilde dos Santos

Adorei o livro Historia de Lagarto. Adalberto, com certeza, era um ser humano humilde e muito alegre. Parabens!

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