Análise do soneto Caminho, de Camilo Pessanha
Extraído do Jornal Folha de Lagarto – Espaço Cultural
Em “Caminho”, soneto simbolista de Camilo Pessanha, o subjetivismo sugestivo se apresenta em cada parágrafo. O aprisionamento ao passado e à saudade trabalha com as emoções.
A ausência de consonância entre as palavras e o ilogismo põe o leitor a pensar e o incentivam a buscar o lógico para cada verso. O jogo entre o presente e o futuro é um dos pontos de maior evidência no texto, e faz a ponte de um parágrafo a outro, o que se comprova no término do penúltimo parágrafo em “céu d’agora” e no verso “expirasse a madrugada” que praticamente encerra o soneto.
Nota-se ainda que o “eu-lírico” não se separa da saudade por estar agarrado ao presente, e o poeta, de alma doente, viaja ao futuro por um caminho cheio de arestas, mas sabendo que sem a dor, todas as suas ambições humanas morreriam.
Caminho nos mostra uma trajetória de aflição, na tentativa de afugentar a dor e a morte que se fundem com o luto, situações negativas e de sofrimento.
Ao passear pelo texto, encontramos evidências do nosso medo com relação ao futuro e a impressão de que ninguém pode se livrar da saudade sem se desligar do presente.
A linguagem metafórica se confunde com as palavras simples e deixa a marca do simbolismo impressa no decadentismo, no vago, nas emoções, nas interrupções virguladas, onde o poema retrata o poeta (como se narrador), não o escritor.
Em meio ao ilógico, a harmonia só se apresenta na sonoridade das palavras que, pouco a pouco, se transformam em rimas irregulares que compõem este soneto de quatro estrofes formado por dois quartetos e dois tercetos. Também obedece ao esquema ABBA, que é transparente na primeira e na segunda estrofe.
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