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Carlota Joaquina – A irreverência de uma princesa num Brasil português

Extraído do Jornal Folha de Lagarto – Espaço Cultural

 

Quem assistiu ao filme Carlota Joaquina, princesa do Brazil, descobriu as dificuldades que a família real teve para imprimir o código da monarquia européia em seus novos súditos ao chegar a este país.

Esta fita de longa-metragem, que mostra a cara do Brasil no século XVIII e que provoca risos e muita reflexão, com cenas de comédia histórica interpretadas por atores experientes, a exemplo de Marieta Severo, Marco Nanini e Ney Latorraca, revela o ecletismo e a irreverência de uma princesa, a infanta Carlota, que, por ostentar o poder em suas mãos, de forma desmedida, comete atos inescrupulosos que desrespeitam o governo do seu marido, D. João, e o povo brasileiro.

Ao praticar o adultério e grandes atrocidades, Carlota Joaquina coloca o marido e a si mesma em situação embaraçosa diante dos que os cercam e da comunidade. Esse clima conturbado e a perseguição de sua própria consciência, acabam por levá-la a momentos de grande depressão.

A película é uma história contada a uma garotinha, por seu tio escocês, que vê na menina os traços da pequena Carlota, princesa espanhola, cujo charme e talento no canto e na dança, a transformam no centro das atenções da corte. Aos 10 anos é prometida em casamento ao príncipe de Portugal, de quem única imagem que guarda é uma foto, alvo de sua decepção quando conhece de perto a pessoa por quem vivia enamorada, completamente diferente do seu homem idealizado.

Trata-se de um filme, que, apesar de bem humorado, põe à tona o seu lado bizarro e está sempre a estabelecer comunicação com o espectador em várias passagens. Retrata, ainda, um tempo difícil em que os exércitos napoleônicos varrem as monarquias decadentes da Europa, onde Portugal é um dos alvos assinalados.

Sem dúvida, um longa metragem que demonstra o amadurecimento do cinema brasileiro, de cenário cuidadosamente escolhido. A ajuda do figurino é o complemento ideal para nos transportar à época.

O filme também é portador de outras riquezas, a exemplo da trama bem entrelaçada, cujo objetivo é resgatar a consciência do indivíduo com relação às ações injustas marcadas pelo tempo.

Lamenta-se apenas ter ficado latente, o impulso progressista que D. João dá ao país no âmbito cultural, em grande parte do seu governo.

O encarte que acompanha a embalagem, traz uma redação clara e objetiva quando se refere à sinopse e ao elenco; contudo, deixa de mencionar a codificação de áudio do filme, ponto muito importante na era do home cinema e dos diversos padrões do mundo da audiofilia.

Outro ponto que chama a atenção é o nome do Brasil, inúmeras vezes grafado com “Z”, objetivando aproximar cada detalhe ao passado.

Vale a pena ser visto, especialmente por aqueles que valorizam a cultura e que acreditam nas qualidades do cinema nacional.

1 comentário

Isabella Marinho

Texto me ajudou.

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