Daltro da batina, e dos sermões muito além do altar
Falar de Daltro é uma tarefa que dá prazer e enche de ânimo os entusiastas da nossa história, mormente quando se carrega nas veias e na alma um amor inquebrantável pela terra que serviu de berço a tantos ilustres, cujas obras continuam a dignificar o orgulho de sua gente e a inspirar o surgimento de outros nomes que também se preocupam em preservar a nossa cultura.
As primeiras narrativas sobre esse eminente cidadão chegaram-me ao ouvido na primeira metade da década de 70, quando tive o privilégio de conhecer um dos homens mais eruditos e polidos da época: Abelardo Romero Dantas, outro profundo amante da vida lagartense.
Ao receber de suas mãos o livro “Heróis de Batina”, que fala da contribuição dos padres jesuítas para a formação do povo brasileiro, o saudoso escritor, num paralelo admirável, não perdeu a oportunidade de também me deixar saber da notável doação dos sacerdotes que passaram pelo nosso município e transformaram os rumos da sociedade lagartense, a exemplo do Mons. João Baptista de Carvalho Daltro. Quiçá os traços políticos do passado não permitissem uma aproximação maior de Daltro à família Romero, contudo as marcas de respeito foram impressas ao longo da história. Oriundo de uma geração mais à frente, Abelardo, ao falar de Lagarto e daqueles que contribuíram para o seu desenvolvimento, trazia na memória a lembrança de um emissário da Igreja que, através de suas obras, conquistou o povo da Vila do Lagarto, admiração que se mantém viva até os dias atuais.
Daltro, além de primeiro administrador oficial do solo lagartense, foi um verdadeiro divisor de águas em nosso município. Suas interferências, deveras significativas, estiveram além do âmbito religioso e, até hoje, servem-nos de lição para o campo social. Vale ainda lembrar, que, em nosso tempo, quando se alude à reforma agrária como novidade, abre-se apenas a porta de uma velha discussão há muito iniciada por Mons. Daltro nas terras de Nossa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto.
Esta singela contribuição para coletânea de histórias deste monsenhor, acende-me uma chama que, espero, possa reaquecer e incendiar o orgulho dos lagartenses ao trazer à baila, esse sergipano que, em Lagarto, plantou para posteridade seu cerne de homem do povo.
Daltro da área de terra para se plantar; da batina e dos sermões que nos levam de Vieira a Guimarães; do imprescindível cavalo para o transporte, deleite e obrigações; do domicílio para se casar; dos ensinamentos de trabalho para uma geração independente; das recomendações para as reservas e economias; das mensagens e reflexões que ensinaram a Lagarto os princípios basilares do progresso, sem perder de vista o amor para o crescimento deste mesmo lugar.
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