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São Cosme e São Damião

Os grandes responsáveis foram os jesuítas. Tendo trazido para o Brasil o culto a São Cosme e São Damião, no início da colonização, eles tinham o hábito de distribuir santinhos e doces nas obras de catequeses ao comemorar o dia dos gêmeos. Com o tempo, o costume se popularizou, ganhou as ruas, foi adotado pelos cultos afro-religiosos em homenagem a seus orixás-crianças. Embora a Igreja Católica, hoje, defenda as doações a instituições de caridade ao invés de distribuição de guloseimas. Assim, 17 de setembro continua sendo sinônimo de doce e correria.

Cosme e Damião, que viveram por volta do ano 300 da nossa era, certamente nunca imaginaram que, após tantos séculos, seriam tão festejados – e muito menos dessa forma. Árabes, filhos de pais cristãos, eles estudaram medicina na Síria e praticaram, depois, nas províncias da Cilícia e Egéia. Ficaram conhecidos por não cobrarem pelos serviços que prestavam aos doentes, ao contrário dos curandeiros, sendo chamados pelo povo de anargyri (inimigo do dinheiro). Mas o que realmente os tornou famosos foram os milagres que operaram – como eles faziam questão de dizer, por graça divina.

A questão é que falar com Deus, numa época e numa terra marcada pela perseguição impiedosa aos cristãos, era como provocar a própria morte. Sinal de loucura ou, então, de muita fé. A dos cristãos, aliás, era tanta, que as torturas que lhes eram impingidas, praticamente não adiantavam nada. E os gêmeos sofreram com todas elas, depois de recusarem a abandonar o cristianismo e adotar os deuses pagãos, como inicialmente lhes propusera Lísias, o violento governante de Cilícia.

Os irmãos foram açoitados, tiveram seus corpos dilacerados por pentes de ferro e, finalmente, acorrentados e jogados ao mar. Não adiantou. Acabaram sendo milagrosamente devolvidos pelas águas, sem nenhuma ferida. Achados por pescadores, foram presos novamente e crucificados. Mais ocorrências estranhas: tanto as pedras que eram jogadas pela multidão como as flechas atiradas pelos soldados em direção às cruzes em que haviam sido amarrados eram devolvidas à origem. Lísias, já sem saber o que fazer, ordenou a decapitação.

O primeiro grande templo em homenagem a São Cosme e São Damião foi erguido em Istambul, na Turquia. Mas, na ocasião, um dos mosteiros italianos de São Bento já era consagrado aos gêmeos. No ano 630 d.C., o Papa Félix IV ordenou suas canonizações e fez uma adaptação em dois templos romanos, transformando-os numa basílica dedicada a eles. Como a Igreja exige, uma pessoa só pode ser considerada santa se forem comprovados milagres ocorridos após sua morte. No caso dos irmãos, há notícias de fatos que parecem ter mesmo o dedo sobrenatural.

Um deles aconteceu com a mulher de um viajante chamado Vulpino, que residia em Roma. Ela e o marido tinham uma senha particular, pois como ele se ausentava frequentemente, temia que alguém importunasse a esposa mandando-lhe recados supostamente seus. Numa dessas vezes, um rapaz – diz-se que o demônio – ouviu a senha e, quando Vulpino partiu, se apresentou à sua esposa. Recitou o código com naturalidade e informou a ela que o viajante, que esquecera um objeto importante, pedia a ela que fosse pegá-lo num determinado lugar. No meio do caminho, entretanto, começou a lhe fazer propostas amorosas. A moça se viu tentada a ceder, mas, num esforço, se concentrou, orou por Cosme e Damião, e o rapaz desapareceu como por encanto.

Outro milagre bastante famoso é o da perna cancerosa do romano Taciano. Certa noite, ele sonhou que os santos discutiam sobre qual a melhor maneira de curá-la. Finalmente, concluíram que deveriam substituir a perna doente pela perna sadia de um rapaz que fora assassinado naquela manhã. Ao acordar, Taciano percebeu que a perna estava curada e contou do seu sonho a todos. Quando desenterraram o rapaz assassinado, comprovaram que o câncer havia sido transferido para o cadáver.

Não é à toa que muitas das promessas que os devotos fazem aos gêmeos, hoje em dia, são no sentido de conseguir curas para alguma doença grave. Contudo, eles são alvos dos mais variados pedidos. A maneira de pagá-los é que é igual: com a distribuição de brinquedos que eles fazem, estão cumprindo alguma promessa. Muitas vezes, trata-se de um simples ato de devoção.

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