Brincadeiras de um menino lagartense: bolas de marraio
por Paulo Nogueira Fontes
> Depois de lançar o primeiro texto da série Brincadeiras de um menino lagartense, com o tema ‘Boi de barro’, volto com mais um: ‘Bolas de marraio’, também conhecidas como bolas de gude.
Esta brincadeira, nas terras do Lagarto de minha infância, se desenvolvia, na maioria das vezes, da seguinte maneira: as bolas eram adquiridas nas bodegas, onde ficavam acondicionadas nos grandes vasos de vidro transparente expostos no balcão. E, para que se pudesse jogar, fazia-se o seguinte: em terra batida, cavavam-se três buracos (“buscas”) no sentido longitudinal (em fila, uma após a outra), numa distância de dois metros uma da outra. A partir daí, uma dupla de meninos fazia as jogadas, um de cada vez, com a sua respectiva bola de marraio de cores brilhantes, geralmente azul ou verde, a bola era arremessada a partir da primeira “busca”, na tentativa de colocá-la na terceira “busca” ou o mais próximo dela. Quem conseguisse colocar a bola mais perto da “busca”, prosseguia no jogo, lançando a sua bola de encontro à bola do adversário (para tecar) e, obtendo êxito, pegava a bola onde parasse depois da tecada e seguia em frente, na tentativa de colocá-la nas demais “buscas” e, dessa forma, concluía-se o processo. Somente quando houvesse falha do primeiro jogador, era dada a vez para que o segundo competidor entrasse no jogo e começasse a jogar, tentando fechar o ciclo, ou seja, colocar as bolas em todas as “buscas”, finalizando o jogo, e, como prêmio, ficava com a bola do adversário. Existiam ou existem outras formas de brincar com essas bolas de modo mais simples, pois se jogava a bola a certa distância e o adversário tentava atingi-la (tecando-a) com a sua bola e, obtendo êxito, ganhava a bola do competidor. Em geral, os meninos que tinham mais condições carregavam consigo uma sacola com bastante bolas, o que lhe dava vantagem perante aquele outro menino que possuísse apenas uma ou duas bolas. Além do mais, havia aqueles “meninos malvados”, que possuíam bolas de aço e as utilizavam simplesmente para arremessar de encontro às bolas de marraio simples, que acabavam destruídas na hora, para a tristeza de um e alegria fútil do outro. Mas, afinal, todos se divertiam.
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