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Brincadeiras de um menino lagartense – Jogo de Futebol

Outra vez venho narrar mais uma Brincadeira de Um Menino Lagartense. Desta vez, trata-se do futebol que sempre foi a mais preferida de todos, mas que necessitava de habilidade, jeito para praticar. O que não era para todo mundo, mas a maioria dos meninos, sempre queria participar nem que fosse para ficar como goleiro, posição esta, que geralmente era rejeitada. Ou então se fosse o dono da bola, pois assim garantiria com certeza, um lugar no time na posição que desejasse.

Naqueles tempos, o futebol no Lagarto, era praticado de várias formas:

Primeiramente, a modalidade mais simples era aquela em que os competidores ficavam frente a frente, individualmente ou em dupla, cada um chutando ou cabeceando a bola de encontro ao adversário que teria que defender o seu gol, que era um espaço delimitado de comum acordo entre os jogadores. Quando a bola ultrapassava a linha delimitada, ocorria o gol.  Essa modalidade de jogo era comum entre os meninos do Lagarto e era praticada nas calçadas, no meio da rua ou em algum galpão ou salão disponível.  Não tinha juiz para decidir as avenças ou tirar as dúvidas sobre a ocorrência do gol. Tudo geralmente era resolvido pelo consenso entre os participantes.

Jogo-de-Futebol Brincadeiras de um menino lagartense – Jogo de Futebol

Já o futebol de linha, como era chamado naqueles tempos (década de cinquenta e sessenta), raramente tinha juiz ou bandeirinha, porém definiam-se previamente quais os meninos que jogariam da seguinte forma: Através do “par-ou-ímpar” entre os líderes, eram chamados um a um de forma alternada, aqueles que jogariam, até completar o número suficiente, que dependia naturalmente do tamanho do campo de futebol. Por outro lado, era necessário para identificação dos jogadores que um dos lados teria que tirar a camisa, ou seja, a competição se daria entre os “sem camisa” contra os “com camisa”, pois dessa forma facilitaria a identificação entre os competidores. Acontecia que muitos dos meninos já saíam de suas casas sem camisa, ou por calor ou mesmo porque não a possuía. Outro aspecto da brincadeira era como seria a avaliação do resultado da competição, que geralmente se fixava no placar a ser alcançado, ou seja, o time que conseguisse alcançar o placar combinado, este seria o vencedor, ou dentro de um tempo determinado quando algum dos jogadores possuísse um relógio, o que era raro naquela época, daí apelar-se para o placar pré-definido a ser alcançado como delimitador do fim da brincadeira.

Muitos ficavam de fora já que além do espaço sem insuficiente, havia também aqueles meninos que não cediam o seu lugar a outro menino de forma nenhuma, eram chamados de “sicuras”. Em geral, nas brincadeiras do jogo de futebol entre os meninos lagartenses,  não tinha muita confusão, a não ser quando um ou outro jogador, no calor do jogo, numa ou outra jogada, apelava para violência dentro do campo e o seu adversário, naturalmente tentava revidar ainda com maior violência. Mas o que produzia maiores brigas era quando alguém chingava a mãe do outro e esse fato acabava com o jogo antes do tempo. O interessante nessas brincadeiras de futebol era a oportunidade de confraternização entre pobres e ricos, pretos e brancos, não havendo problema de discriminação de qualquer espécie, a não ser quando tinha muita gente para brincar e aí teria que naturalmente excluir alguns que geralmente se fazia escolhendo os conhecidos “pernas de pau” e conservando os chamados “bons e bola”.

Esse tipo de jogo naqueles tempos no Lagarto era praticado largamente, apesar das dificuldades de se conseguir o instrumento essencial para a prática do futebol, ou seja: A bola, que não era fácil como hoje de adquiri-la, a não ser algumas de borracha que doíam muito quanto batiam nas pernas dos garotos e furavam com facilidade. As bolas de couro eram muito caras naquela época, e em geral os meninos pobres do Lagarto ficavam sonhando em ganhar no seu aniversário ou no Natal, uma bola de couro. Caso esse sonho não se realizasse, o jeito era jogar com as de borracha mesmo, ou ainda, a sorte de ter um colega amigo ou vizinho rico, que gostasse de futebol e possuísse uma bola de couro e naturalmente, o chamasse para jogar.

Muitas das vezes, os meninos pobres daquela época, pegavam meias velhas e a enchiam de papel ou de retalhos de pano para fazer suas bolas e assim, poderem iniciar a prática do futebol nas varandas ou quintais de suas residências em nosso Lagarto, até conseguirem ganhar dos pais ou padrinhos, uma bola de fábrica como se falava naqueles tempos.

Outra grande dificuldade que com o tempo se tornou ainda maior, era conseguir um local para pratica do futebol de linha, ou seja, de campo, pois os terrenos baldios foram pouco a pouco desaparecendo e as praças em geral, não dispunham de um espaço para que os meninos jogassem a sua bola e em consequência, pela proximidade das residências, ainda corriam o risco de quebrarem algumas vidraças destas, fato este que frequentemente aconteciam, produzindo a maior confusão, envolvendo os meninos e o proprietário da casa atingida, que geralmente, pegava a bola de borracha e a furava e em seguida a devolvia aos meninos ou pior, chamava os pais dos mesmos para discutirem quem iria pagar pelo prejuízo.

Vários locais em Lagarto serviram para os meninos da minha época, jogarem futebol.  Desde Campo da Vila, passando pelos galpões da praça da feira, o espaço ao lado do Colégio das Freiras, na Praça do Rosário, como também um campinho, ao lado de uma mangueira no Grupo Escolar Silvio Romero e por último do Centro Social construído na década de oitenta ao lado do bairro Campo da Vila. Além é claro dos diversos campinhos de futebol particulares dos povoados, em todo o município de Lagarto que na verdade, eram, e ainda são, os poucos espaços disponíveis para a prática do futebol, ainda hoje, no nosso Lagarto.

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