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Brincadeiras de um menino lagartense – O Circo

exposicao-aeiou-011 Brincadeiras de um menino lagartense – O Circo

Todo lagartense que tem boa memória pode se lembrar de, pelo menos, uma passagem de alguns dos circos pelas terras do Lagarto, lá pela segunda metade do século XX, desde o “Circo Nerino”, “Circo Brasiluc”, “Circo Garcia” e o “Circo Bezerra”, entre outros.

Quando corria a notícia da chegada de um circo na cidade, os meninos ficavam na expectativa sobre onde ele seria armado, apesar de, geralmente, ser em local já predeterminado pela autoridade municipal. Naqueles tempos não tinha local certo para armar o circo, ora era armado na praça nos fundos do cemitério Senhor do Bonfim ou na Praça do Rosário ou em algum terreno baldio.

Quando começava a armação do circo que, naturalmente, se iniciava pela colocação dos mastros, era uma festa para a meninada que acompanhava com bastante curiosidade o levantamento do mesmo, que, através da força de vários homens, era puxado com umas cordas, conseguindo colocá-los na posição vertical, enquanto que outras pessoas do circo, ficavam remendando a empanada, composta de tecido bastante grosso (tipo encerado), para ser erguida após o levantamento dos mastros. O levantamento de empanada ou cobertura do circo era também acompanhado com mesmo interesse e expectativa.

O problema para a maioria dos meninos lagartenses da época era como assistir ao espetáculo de estreia do circo que era anunciada por toda a cidade pelo serviço de alto-falante alugado ou do próprio circo que percorria as ruas principais, divulgando a apresentação do mesmo.

Mas a maioria dos circos daquela época não utilizava serviços de alto-falante, já que tinha um método muito eficiente de divulgar a sua programação, através de um palhaço, que, em cima de pernas-de-pau, fazia esse trabalho. Para tanto, convidava a meninada, geralmente, os meninos pobres que assistiam à armação do circo para acompanhá-lo nessa divulgação, da seguinte forma: o palhaço com as pernas de pau e os meninos atrás dele começavam a chamar o povo para assistir ao espetáculo cantando:

Ou raia o sol… Suspende a lua!

Olhe o palhaço… No meio da rua!

Hoje tem espetáculo?

Aí a meninada respondia:

Tem sim senhor!

O palhaço voltava a perguntar:

Oito horas da noite?

E a os meninos gritavam todos juntos:

Tem sim senhor!

Ai o palhaço gritava:

Arrocha negada!

E a meninada gritava:

Hei… !  Hei…!  Hei…!

Era uma grande festa.

E após percorrer as ruas principais da cidade junto ao palhaço, os meninos se agrupavam em frente ao circo para receber um “passe” para assistir à noite, na geral, ao espetáculo. Para tanto, o palhaço, ao final da caminhada, melava com tinta o pulso de cada menino que participou da caminhada, e, em seguida, todos em fila mostravam o pulso e recebiam o passe para ingressar naquele mesmo dia no circo.

Os meninos ficavam ansiosos para ver, principalmente, os animais, como macacos, elefantes e as feras (onças e leões) e rir com os palhaços no picadeiro e emocionados com os trapezistas além dos motoclicistas no ”globo da morte”, como também para os meninos já adolescentes e os coroas da época, era bastante aguardada a apresentação das “rumbeiras”, que eram dançarinas do ritmo caribenho, particularmente, no Circo Bezerra, quando de passagem por Lagarto, apresentava a bela Iracema (filha do dono do circo), que dançava sensualmente encantando a todos. E ao final de cada espetáculo, alguns circos apresentavam alguns dramas no seu palco que eram acompanhados com bastante atenção e emoção por todos os espectadores.

Havia alguns meninos que, não tendo participado da caminhada com o palhaço, tentavam ingressar no circo à noite, passando por baixo da cerca ou grade que envolvia o circo, que era vigiada por um preposto do circo conhecido como “mata-cachorro”, pois andava com pedaço de pau para impedir que alguns meninos mais afoitos, conseguisse entrar no circo por baixo da geral.

Essas passagens dos circos ficavam na memória de cada menino Lagartense, levando-os a cada um a procurar montar um circo no quintal de sua casa, tarefa esta que efetuada de maneira criativa, desde a concepção dos trapézios, picadeiros, arquibancada (geral) e a empanada que se valia de lençol de dormir das suas camas e os artistas que atuariam no circo, os meninos recrutavam os brinquedos de suas irmãs, ou seja, os bonecos e bonecas de pano ou plástico, que seriam os artistas do circo. Depois de montado o circo, convidavam-se os amigos e vizinhos para a estreia e, então, se fazia uma grande festa.

2 comments

Paulo Nogueira Fontes

Conheço o Samuel da minha geração (estou com 62 anos) e o padre Celso, pois o mesmo é sobrinho de minha cunhada Maria de São Pedro, cunhada do Elizeu dos Correios. Essa cunhada é casada com meu irmão Edson e mora na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Quantos aos filhos do Seu Bel, conheci todos eles. Aguardo sua presença em Lagarto. E mais notícias.

José Edvaldo Dias de Souza

Paulo, sou lagartense, tenho 57 anos e vivi no Lagarto até o dia da inauguração do novo estádio de futebol, que ficava na avenida da nova rodovia que que dava acesso a Aracaju. Acho que tinha uns 11 anos.

Fiquei muito feliz de encontrar o ‘site’, pois voltei ao tempo e muitas dessas histórias vivi um pouco. Morava na Rua Padre Álvares Pitangueiras, quase em frente à quadra de futebol e lembro que no terreno onde tinha a caixa d’água, atrás do cemitério, uma vez foi armado um circo, e meu pai (que era conhecido como Juca), cedeu água para o circo de uma cisterna que tinha na minha casa e, com isto, fui assisti de graça todos os espetáculos, na época. Foi o melhor acontecimento da minha vida, isto com apenas 7 anos.

Talvez você conheça minha família. Sou primo do padre Paulo Celso Nascimento, filho de Elizeu Nascimento, um dos fundadores da indústria Plastil.

Éramos 8 irmãos, alguns, talvez, você conheceu: Everaldo, Siveraldo, Nivaldo, Erivaldo, Rosalvo. Meus amigos de brincadeiras de menino eram os filhos do Sr. Bel, pai dos jogadores do Lagarto, Tática e José Américo, não sei se você se lembra dessa turma.

Moro, atualmente, em Ribeirão Preto (SP) e nunca mais retornei à minha cidade natal (deve fazer uns 46 anos).
Estou me programando para visitar Lagarto, ainda tenho uma tia, mãe do padre Celso, e alguns primos que moram aí.

Se possível, mande notícias!

Abraços,
Edvaldo

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