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Desigualdade racial começa na infância e exige reescrita de uma história marcada por violências

Série Especial / Julho das Pretas

A desigualdade racial no Brasil não começa na vida adulta. Ela se manifesta desde os primeiros anos de vida, quando crianças negras enfrentam barreiras invisíveis que moldam seu futuro. No acesso à educação, no tratamento nas instituições, na forma como são vistas pela sociedade e até na brincadeira, o racismo estrutura as experiências de infância e perpetua ciclos de exclusão e dor.

Dados do IBGE e do UNICEF apontam que crianças negras têm menos acesso a creches de qualidade, enfrentam maiores taxas de repetência escolar e são as principais vítimas de violência letal na juventude. O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de proteção e desenvolvimento, muitas vezes se transforma em palco de discriminação, estigmas e apagamentos.

A pesquisadora e filósofa Djamila Ribeiro alerta que o racismo não é apenas individual, mas estrutural, atravessando a formação de subjetividades desde muito cedo. “A criança negra é marcada como diferente, inferior, perigosa. É preciso construir um outro imaginário social que permita que ela exista em sua plenitude”, afirma.

Essa realidade impõe a urgência de políticas públicas que atuem desde a base: educação antirracista nas escolas, formação de profissionais da infância, investimento em saúde mental e valorização da cultura afro-brasileira. Mais do que reparação, trata-se de garantir o direito de existir com dignidade.

Movimentos sociais e educadores têm se mobilizado para transformar essa trajetória. Projetos como bibliotecas comunitárias negras, rodas de leitura com autoras africanas e afro-brasileiras, e a inclusão da Lei 10.639/03 nos currículos escolares são caminhos possíveis para recontar essa história.

Reescrever a infância das crianças negras é um passo essencial para romper com a lógica da exclusão e construir um futuro mais justo. Significa permitir que sonhem, aprendam e cresçam livres das marcas de um passado colonial que insiste em se repetir. A infância negra precisa ser protegida — e celebrada.

Elissandra Santana

Servidora Pública, podcaster e apaixonada por histórias que misturam humor e reflexão. Criadora do podcast 'Quem Nunca?', onde aborda temas do cotidiano com leveza e inteligência, traz em seu programa um olhar único sobre a vida. Redatora do Portal Lagartonet. Quando não está trabalhando ou gravando, é possível encontrá-la rindo e buscando novas inspirações para suas criações.