DE DALTRO A DÉDA – São de Simão Dias os maiores benfeitores da história de Lagarto (Euler Ferreira*)
A história, com seus testemunhos importantes, expõe para todos nós, relatos que se mostram indispensáveis ao informar, à luz da verdade, toda a trajetória da evolução humana, projetando para a posteridade subsídios que educam e capacitam, na medida em que buscamos o conhecimento. Ao percorrer exaustivamente essa trilha, com seus caminhos cheios de surpresas nem sempre agradáveis, deparamo-nos com a essência de eventos promovidos por determinadas pessoas, pois suas atitudes são atraídas pela história e dela não saem mais.
Recentemente, chegou-me às mãos um livro organizado pelo professor Claudefranklin Monteiro Santos, totalmente dedicado a destacar um notável filho de Simão Dias, Mons. João Batista de Carvalho Daltro, que viveu em terras lagartenses durante 36 anos, cumprindo sua missão entre nossos antepassados. Daltro que não mediu esforços para que as demandas da população mais pobre fossem atendidas, de alguma forma, resultando, pouco a pouco, no respeito e no amor que todos os lagartenses passaram a sentir pelo sacerdote oriundo do vizinho e próspero município do Barão de Santa Rosa.
O então Padre Daltro chegou às terras lagartenses em 1874, a fim de cumprir trabalho pastoral para o qual fora designado, não sabendo ele que o perfil de sua obra teria uma forte identificação com o povo de sua época, justamente por atitudes cristãs e sociais que até hoje são exaltadas por renomados escritores, a exemplo do lagartense Luiz Antônio Barreto.
Foi por iniciativa do Monsenhor Daltro que foram construídos o Hospital Nossa Senhora da Conceição e o Cemitério Senhor do Bonfim, além da conclusão das obras da Matriz de Nossa Senhora da Piedade. Conforme anota a Prof.ª Maria da Piedade Santos Oliveira, no livro em epígrafe, o Mons. Daltro ainda usou sua influência para construir o prédio da Prefeitura, um enorme barracão para os feirantes na antiga Praça de Nossa Senhora da Conceição dos Aflitos (atual Filomeno Hora) e parte das casas da Praça da Matriz.
Embora poucos saibam da importância do Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro para o desenvolvimento de Lagarto, pois muito pouco se publicou a respeito, nunca é tarde contar a sua história, a exemplo do que me foi passado na minha infância: ‘Daltro foi padre que só abençoava um casamento se o noivo tivesse um sítio, um cavalo, algum gado!” Quantas vezes eu ouvi tal narrativa feita pelo meu querido pai, Nelson Ferreira, que me passava o exemplo na esperança de que, de minha parte, houvesse a fixação de que, em outras palavras, ‘quem casa quer casa!’ Há quem sustente a tese que os nossos atuais povoados chegaram a número expressivo, 118, graças ao que viria a ser uma espécie de reforma agrária promovida por Monsenhor Daltro, com sua política de doação aos mais pobres: terra para os necessitados.
Monsenhor Daltro morreu aos 81 anos no seu querido município de Simão Dias. Por desejo próprio, foi enterrado na Matriz de Lagarto, em 2 de fevereiro de 1910.
15 de junho de 2009.
Quase cem anos após a morte de Monsenhor Daltro, o Presidente Lula e o Governador Marcelo Deda lançam, oficialmente, o Campus da Saúde de Lagarto, unidade da UFS que se apóia em três importantes pilares sociais: formação de profissionais da área de saúde, expansão da Universidade Federal de Sergipe e a interiorização do ensino superior, o que torna mais fácil o acesso à formação acadêmica para milhares de jovens. A eles, a Cidade Universitária vai oferecer cursos de Enfermagem, Nutrição, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Farmácia, Terapia Ocupacional e, posteriormente (no próximo ano), Medicina e Odontologia. A partir do dia 14 de março, trezentos jovens – boa parte de origem humilde – passam a ter acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade. O campus será revolucionário para a área da saúde, pois formará mão-de-obra especializada que dará sustentabilidade à expansão dos serviços de saúde no Estado”.
Como diria a querida amiga Valdira, que conheci nos bastidores de uma emissora de TV, “é uma benção, meu amigo!”
Por uma dessas coincidências do destino, ou para ser mais exato, por desígnio de Deus, mais um filho de Simão Dias intercede por Lagarto. Com o campus da UFS, um novo clima de progresso entra em cena proporcionando investimentos nas áreas de hotelaria, restaurantes e habitação – com modernos condomínios – sinalizando para outros tantos empreendimentos empresariais e, com eles, mais emprego e renda, resultando no fortalecimento de uma economia que está entre as principais de Sergipe, conforme alguns indicadores, a exemplo das amostragens do IBGE disponíveis na Internet. A Cidade Universitária reflete o início de uma nova era, de um desses momentos inestimáveis que forçam, positivamente, mudanças no rumo da história de uma sociedade que buscava, há muito tempo, outras vertentes que resultassem em fatos altamente relevantes.
Tais fatos estão expostos na mesa do nosso destino. O Governador Marcelo Déda e o Monsenhor Daltro fizeram acelerar as boas opções para a formatação das cenas dos próximos capítulos da História de Lagarto. Ao lagartense compete promover a sua parte, o seu passo seguinte de esforço para que não paremos no tempo à espera de um novo benfeitor com poderes e idéias de transformação, a exemplo, repito, dos queridos irmãos vizinhos de Simão Dias que se doaram, tão bondosamente, por Lagarto. Lembrando a velha canção revolucionária de Geraldo Vandré (Caminhando, 1968), ‘eles souberam fazer a hora’. Façamos a nossa, então.
Polir a imagem do governador não me diz respeito. É algo que compete a sua Secretaria de Comunicação, que o faz com extrema habilidade sob o comando de Carlos Cauê. No entanto, como jornalista consciente e preocupado com as coisas que dizem respeito à querida Lagarto, devo ser reconhecido quando nos reconhecem e agradecido quando nos prestam na bandeja um presente do tamanho da maior unidade hospitalar do interior do estado – o Hospital Regional Mons. João Batista de Carvalho Daltro – além de uma Cidade Universitária com seu Campus na área da Saúde.
Convenhamos, é impossível esconder de nossa história os fatos relevantes que este simãodiense governador legou à terra de Sílvio Romero. Neto do comerciante, advogado, político, jornalista e escritor José de CARVALHO DÉDA – autor de Brefaias e burundangas do folclore sergipano, Formigas de asas, Carvalho Déda: vida e obra (coletânea) e Simão Dias: fragmentos de sua história – irmão do Desembargador Claudio Déda, Marcelo Déda foi a voz que no Governo Lula intercedeu pelo Campus da UFS em Lagarto, aquele que soube ser a diferença a nosso favor, embora muitos duvidassem de suas boas intenções porque entendiam que melhor ser contrário, mesmo sob pena de uma ‘universidade nunca mais’.
Longe de mim entrar em discussão sobre teorias sociais/políticas/ideológicas a respeito do tamanho e do valor do Governo Déda para Lagarto. Mas é óbvio e sensato que, seja como for, o que se comenta aqui é extraído de fatos devidamente conferidos pela história – no caso do Monsenhor Daltro – e/ou comprovados pelos flagrantes do nosso tempo, a exemplo da inauguração, nesta segunda-feira (14/03/2011), do Campus de Ciências da Saúde de Lagarto, cuja aula inaugural terá as participações do Governador Marcelo Déda e do Reitor da UFS, Josué Modesto dos Passos Subrinho. Nessa instituição, apropria-se o patrimônio do saber humano que deve ser aplicado ao conhecimento e desenvolvimento de Sergipe e da sociedade brasileira, atendendo, inclusive, à demanda crescente dos alunos, sobretudo os carentes.
Daltro e Déda são os maiores benfeitores que Lagarto já conheceu. Nem por isso se pretende jogar para baixo do tapete o valor e respeito que devem ser creditados às grandes lideranças políticas que administraram o município ao longo dos anos, a exemplo de Antonio Martins de Menezes, Dionísio de Araújo Machado, Rosendo Ribeiro Filho e Artur de Oliveira Reis. Impossível desconhecer o quanto eles somaram para o progresso de Lagarto.
Que saibamos ser gratos então. Lembrando Bonnie e de Wall (2004), assim como Trivers (1971), a gratidão é uma adaptação evolucionária que regula as respostas das pessoas às ações altruístas.
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* Jornalista lagartense
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