Sylvio Romero, o imortal
Jurista, crítico, jornalista, etnólogo, professor e historiador literário, filho do comerciante português André Ramos Romero e de D. Maria Joaquina Vasconcelos da Silveira Ramos, nasceu em Lagarto (SE), em 21 de abril de 1851, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 18 de julho de 1914. Em 1863, aos 12 anos, cursa, no Rio de Janeiro, humanidades e, em 1868, segue para Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito, onde se diplomou em 1873. Em 1870, colabora na imprensa da cidade com poesia, artigos de crítica e polêmica, iniciando uma atividade que se prolongaria por 50 anos. Depois de diplomado, torna-se funcionário público em seu estado natal, elege-se deputado, mas regressa a Recife para ser professor.
Romero foi uma das maiores personalidades intelectuais do Brasil. Sua obra é exemplo da seriedade com que a ela se entregava, pela inquietação e inconformismo ante as rotinas, pela divulgação de ideias novas e fecundação intelectual que produziu. Em decorrência de sua filosofia, sua concepção da crítica e da historiografia literária baseava-se no determinismo biológico e sociológico, no evolucionismo darwinista, no naturalismo e cientificismo aplicado à literatura. Ele entendia, assim, a história literária como a “história natural da sociedade e das letras”. Consistiria, pois, na análise e julgamento de toda a produção escrita do povo, já que todo documento escrito era, para ele, literatura.
De suas teorias, decorrem as características da sua crítica e historiografia literária, tal como as fez na História da Literatura Brasileira (1888). É a primeira grande sistematização da literatura brasileira, uma obra ainda hoje respeitável, com ampla investigação, escrita com amor e seriedade.
A sua obra – cerca de 50 volumes de poesia, crítica, história literária, filosofia, folclore, direito, polêmica – é das mais importantes da cultura nacional, ponto de partida obrigatório para quem deseja penetrar no conhecimento da realidade brasileira.
Embora a Literatura Brasileira já existisse, faltava-lhe organização e registro, o que Sílvio Romero acaba por fazer com maestria. A nossa literatura, a partir do trabalho minucioso e apaixonado desse intelectual, passa a reunir suas riquezas e ganha outra dimensão.
Sílvio Romero não foi apenas um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras; como integrante, também passou a ser um dos nomes mais respeitados naquela instituição. Apesar de suas críticas e do seu polemismo, Romero era respeitado até mesmo pelos menos simpatizantes de suas colocações.
Sua obra máxima, História da Literatura Brasileira, publicada em 1888, foi escrita 20 anos depois de outras grandes publicações de sua autoria. Serviram, na verdade, de fase preparatória para aquela que se tornaria uma das mais importantes da nossa História e do nosso pensamento.
Sabe-se que o primeiro grande movimento de crítica de valores, genuinamente nacional, surgiu com a Escola do Recife, que teve, à frente, a figura de Sílvio Romero, amigo inseparável de Tobias Barreto. Ele se utilizou de um estudo sociológico, pelo qual a obra deveria ser estudada em função das condições que tinham envolvido o seu surgimento: origem, ambiente, influência da raça e do meio, e participação.
Ao morrer, no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1914, encerrava-se com Sílvio Romero o século XIX, herdeiro de suas ideias e grandes obras, mas o seu legado ficará como marco determinante na história das nossas letras, banindo o convencionalismo intelectual, apresentando novas perspectivas para a nossa literatura, promovendo uma avaliação literária popular e culta, como jamais alguém o fizera, exercendo sobre os seus contemporâneos e as novas gerações, uma influência que nem o tempo será capaz de apagar.
Rusel Barroso
Fundador da Academia Lagartense de Letras
Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
Membro do MAC da Academia Sergipana de Letras
e da Associação Sergipana de Imprensa
Embaixador da AGES
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