Sílvio Romero: um exemplo que atravessa gerações
Ao longo da história, Lagarto não poupou generosidade aos seus filhos. Sílvio Romero, Laudelino Freire, Ranulpho Prata, Aníbal Freire e Abelardo Romero Dantas são alguns dos lagartenses que deixaram um legado de conhecimento incomensurável para a cultura brasileira. Uma herança que atravessa gerações e que, certamente, continuará a enobrecer a nossa gente.
Acompanhando o avanço deste município, berço literário e marco de progresso em Sergipe, temos a honra de apresentar um dos seus mais importantes filhos ilustres, o escritor Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero, filho do comerciante português André Ramos Romero e de D. Maria Joaquina Vasconcelos da Silveira Ramos. Nasceu em Lagarto/SE, aos 21 de abril de 1851, tornou-se professor, ensaísta, juiz de direito, folclorista, crítico literário, polemista e historiador da literatura brasileira. Portanto, Lagarto celebra o seu aniversário, tomando como base o seu nascimento.
Em sua cidade natal, iniciou os estudos primários, cursando a escola mista do mestre Badu, professor muito sério e de rígida disciplina. Em 1863, partiu para a corte, a fim de fazer os preparatórios no Ateneu Fluminense. Em 1868, regressou ao Nordeste e matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife. Formou, ao lado de Tobias Barreto e junto com outros moços de então, a Escola do Recife, local apropriado para uma renovação da mentalidade brasileira. Romero, no início, foi positivista. Distinguiu-se, porém, dos que formavam o grupo do Rio, entre eles Miguel Lemos, que levava o Comtismo para o terreno religioso. Espírito mais crítico, Sílvio Romero se afastaria das ideias de Comte para se aproximar da filosofia evolucionista de Herbert Spencer, na busca de métodos objetivos de análise crítica e apreciação do texto literário.
Começou a sua atuação jornalística na imprensa pernambucana, publicando a monografia: A poesia contemporânea e a sua intuição naturalista. Desde então, manteve a colaboração, ora como ensaísta e crítico; ora como poeta, nas folhas recifenses, entre elas: A Crença, o Americano, o Correio Pernambucano, o Movimento, o Diário de Pernambuco, o Jornal do Recife, a República e o Liberal.
Assim que se formou, exerceu a promotoria. Atraído pela política, elegeu-se deputado à Assembléia Provincial de Sergipe, em 1874. Regressou a Recife para tentar fazer-se professor de Filosofia no Colégio das Artes. Realizou-se o concurso no ano seguinte e ele foi classificado em primeiro lugar, mas a Congregação resolveu anular o concurso. A seguir, defendeu tese para conquistar o grau de doutor. Nesse concurso, Sílvio Romero se ergueu contra a Congregação da Faculdade de Direito do Recife, afirmando que a metafísica estava morta e discutindo, com grande vantagem, com professores como Tavares Belfort e Coelho Rodrigues.
Em fins de 1875, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Foi para Parati, como juiz, onde demorou-se dois anos e meio. Em 1878, publicou o livro de versos Cantos do fim do século. Depois de publicar Últimos harpejos, em 1883, abandonou as tentativas poéticas. Já fixado no Rio de Janeiro, começou a colaborar em O Repórter, de Lopes Trovão. Ali, publicou a sua famosa série de perfis políticos. Em 1880, prestou concurso para a cadeira de Filosofia no Colégio Pedro II, conseguindo-a com a tese Interpretação filosófica dos fatos históricos. Jubilou-se como professor do Internato, em 2 de junho de 1910. Vale ressaltar que Romero também fez parte do corpo docente da Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro.
Em 1897, Sílvio Romero, José Veríssimo e outros intelectuais fundaram a Academia Brasileira de Letras, que teve como primeiro presidente Machado de Assis.
No governo de Campos Sales, foi deputado provincial e depois federal pelo Estado de Sergipe. Nesse último mandato, foi escolhido relator da Comissão dos 21 do Código Civil e defendeu, então, muitas de suas ideias filosóficas.
Na imprensa do Rio de Janeiro, Sílvio Romero tornou-se literariamente poderoso. Admirador incondicional de Tobias Barreto, nunca deixou de colocá-lo acima de Castro Alves; além disso, manteve, durante algum tempo, uma certa má vontade para com a obra de Machado de Assis.
Como polemista, deve-se mencionar, ainda, a sua permanente luta com José Veríssimo, de quem o separavam fortes divergências de doutrina, método, temperamento, e com quem discutiu violentamente. Nesse âmbito, reuniu as suas polêmicas na obra Zeverissimações ineptas da crítica (1909).
Romero foi um pesquisador bibliográfico sério e minucioso. Preocupou-se, sobretudo, com o levantamento sociológico em torno de autor e obra. Sua força estava nas ideias de âmbito geral e no profundo sentido de brasilidade que imprimia em tudo que escrevia. A sua contribuição à historiografia literária brasileira é uma das mais importantes de seu tempo, o que pode ser comprovado na obra o Pioneirismo de Sílvio Romero na Historiografia da Literatura Brasileira (2010), escrita por Rusel Barroso.
Sílvio Romero era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e de diversas outras associações literárias. Nessa trajetória, foi também um dos grandes responsáveis pela valorização das tradições populares, recolhidas nas obras sobre o folclore.
Ao morrer, no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1914, encerrava-se com ele o século XIX, herdeiro de suas ideias e grandes obras, mas o legado de Sílvio Romero ficará como marco determinante na história das nossas letras, banindo o convencionalismo intelectual, apresentando novas perspectivas para nossa literatura, promovendo uma avaliação literária popular e culta, como jamais alguém o fizera, exercendo sobre os seus contemporâneos e as novas gerações, uma influência que nem o tempo será capaz de apagar.
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